Que relação teremos com a biodiversidade de outros planetas?

Irá haver um dia em que a espécie humana chegará a outros planetas com o intuito de os colonizar e também para os explorar economicamente. Mas o que acontecerá se algum desses planetas for a casa de espécies diversas? O que acontecerá se houver ecossistemas naturais nesses mundos? Que relação iremos ter nós com a biodiversidade existente?

Sabemos bem que a Natureza não é uma entidade estática e as coisas vão mudando ao longo do tempo. Se recuarmos vinte milhões de anos encontraremos uma Terra muito diferente daquela que conhecemos actualmente. Encontraremos espécies que, entretanto se extinguiram, encontraremos paisagens diferentes e encontraremos vários outros aspectos que já não existem actualmente. E se recuarmos uns sessenta milhões de anos nem sequer encontraremos a cordilheira dos Himalaias, pois essa só começou a formar-se há cerca de cinquenta milhões de anos quando a Placa Índica começou a sua colisão com a Placa Euroasiática.

Tudo isto para dizer que habitamos um mundo dinâmico e tudo aquilo que esse mundo contém (desde o movimento das placas tectónicas até às espécies que compõem a biodiversidade terrestre, passando por tudo o resto) é parte integrante do dinamismo mutável da História da Terra. E tudo está interligado, a Terra é como uma gigantesca rede de relações.

Habitar um mundo assim significa que basta estar vivo para fazer alterações na região e até para além dela. Essas alterações podem acontecer para tornar essa mesma região de acordo com as necessidades de uma determinada espécie. Por exemplo, a espécie humana precisa de alterar um determinado espaço para que possa ser usado para semear determinados alimentos. Outro exemplo são os castores com as barragens que constroem. E até o simples facto de um insecto comer as folhas de uma planta está a provocar alterações na paisagem. Mas o que importa aqui não é a acção em si mas sim o tipo de impacto que essa acção provoca nos ecossistemas. Grosso modo, podemos dizer que esse impacto pode ser positivo ou pode ser negativo (implicando a segunda hipótese a degradação ou destruição de ecossistemas e a redução da biodiversidade).

Ora, parece-me claro que a espécie humana tem tido, ao longo da História, e em particular nos tempos mais recentes, um registo extremamente acentuado no que respeita às alterações que têm vindo a acontecer no planeta, pois tudo aquilo que se faz tem as suas consequências (que podem ser positivas ou negativas). E temos uma longa lista de exemplos negativos e que vão desde a poluição plástica até à destruição de ecossistemas e às espécies que empurrámos para a extinção. Portanto, no seu todo o impacto que a espécie humana tem tido na biodiversidade terrestre descai para o lado negativo. Temos tido uma convivência difícil e problemática com os ecossistemas naturais e com a biodiversidade além da humana. Além da humana porque a nossa espécie é parte integrante da biodiversidade terrestre e nós somos apenas uma de milhões de espécies que habitam a Terra.

Nós temo-nos mostrado como uma espécie invasiva que tende a degradar ou a destruir ecossistemas para obter algo que almeja. E esse algo pode ser óleo de palma, pode ser uma zona turística, pode ser a expansão urbana, pode ser lítio e pode ser uma série de outras coisas que formam as causas deste nosso avanço por terras que são o habitat de outras espécies. O resultado prático deste nosso avanço é a redução da biodiversidade terrestre e este é o cenário que vamos criando na Terra. Claro que existem indivíduos ou grupos de indivíduos da espécie humana cujas vidas têm um impacto positivo no que respeita à preservação da biodiversidade terrestre. Mas temos de olhar para o cenário no seu todo, englobando toda a população humana, e parece-me óbvio que há um peso muito maior do lado negativo, ou seja, do lado da destruição. E se nada se alterar na nossa atitude em relação ao mundo que habitamos, este é o cenário que, provavelmente, vamos exportar quando chegarmos a outros planetas.

É uma inevitabilidade que, lá mais para diante, façamos chegar a nossa presença a outros planetas, satélites ou asteróides para neles estabelecermos colónias ou, simplesmente, para explorar os seus recursos através de indústrias como a mineira, por exemplo. Já chegámos à Lua, já pousamos em Vénus e em Marte e é apenas uma questão de tempo até os primeiros seres humanos pisarem a superfície marciana. Outros planetas ou satélites se seguirão no nosso Sistema Solar ou noutros que existem no Universo. E vários desses outros planetas ou satélites poderão conter vida. Tal como a Terra, vários desses mundos poderão ser a casa de inúmeras espécies.

Certamente que antes de pousarmos e de darmos os primeiros passos na superfície de outros planetas ou satélites teremos já uma ideia do que vamos encontrar. Pesquisas e estudos realizados antes dir-nos-ão que recursos existem, qual é a composição da atmosfera, qual é a duração do dia, como é o clima e até se existe vida. Portanto, antes de estabelecermos uma colónia ou de construirmos uma mina, teremos já uma ideia bastante completa do que nos espera e iremos já preparados para vivermos e trabalharmos nas condições que existirão.

A nossa expansão para fora da Terra começará pelo nosso Sistema Solar. E há alguns destinos que, provavelmente, serão os primeiros a receber indivíduos da espécie humana, como a Lua, Marte, Titã (o maior satélite de Saturno) e Ganimedes (o maior satélite de Júpiter). Em nenhum destes locais foi, até agora, encontrada vida (pelo menos, que se saiba, através das informações que têm vindo a ser tornadas públicas).

Em qualquer destes casos, a primeira colónia ou o início da exploração económica surgirá apenas daqui a alguns anos ou décadas, contando a partir da segunda do século XXI (altura em que escrevo este texto). E nessa altura, os conhecimentos científicos e tecnológicos estarão já mais avançados comparando com aqueles que existem actualmente. Mas será que estarão suficientemente avançados que permitam que a espécie humana consiga viver sem causar impacto negativo no meio ambiente e na biodiversidade? E será que nessa altura saberemos viver em harmonia e de forma construtiva, sem degradar ou destruir ecossistemas e sem empurrar espécies para a extinção?

Imaginemos que um dia, algures no futuro, encontramos noutro sistema solar um planeta que nos agrada e, no qual, pretendemos construir uma colónia. Mas suponhamos que esse planeta contém vida. Contém milhões de ecossistemas naturais e milhões de espécies que fazem desse mundo a sua casa.

Permitam-me, antes de continuar, fazer uma chamada de atenção. Estou a imaginar que nesse planeta imaginado, as espécies residentes estejam num nível tecnológico e científico inferior ao dos humanos desse futuro e podemos considerar que uma retroescavadora é suficiente para afastar espécies não humanas e para lhes degradar ou destruir os habitats. Estou em crer que se alguma dessas espécies se equiparar ou mesmo superar o nível que for possuído pelos humanos, estes segundos cuidarão do assunto com precaução e até poderão perder o interesse em colonizar esse planeta.

Mas voltemos ao exemplo que estávamos a seguir. E nesse, como irá a espécie humana proceder? Iremos repetir a receita que temos vindo a aplicar na Terra e continuar a ser uma espécie invasiva e destrutiva, desta vez, nesse outro planeta? Vamos também contribuir para a redução da biodiversidade nesse outro planeta? Ou será que, nesse futuro, já saberemos viver em harmonia e de forma equilibrada com o mundo em que habitamos e conseguiremos respeitar a biodiversidade do planeta em que pousarmos?

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