Plástico, plástico, plástico. Para onde quer que olhemos há sempre alguma coisa de plástico. O nosso computador é de plástico, a esferográfica que usamos é de plástico. Abrimos o frigorífico e encontramos produtos com embalagens de plástico. Fora do frigorífico continuamos a encontrar produtos com embalagens de plástico. Na casa de banho continuamos a ter embalagens de plástico. E, algures, encontramos uma televisão de plástico.
O plástico está em todo o lado. Até o nosso carro tem partes de plástico. Chegamos ao emprego e encontramos objectos de plástico. Parece vivermos num mundo que brotou a partir do plástico.
Mas não pretendo afogar em plástico este meu escrito. E até creio que já repeti demasiadas vezes a palavra “plástico”. E ainda só estou no terceiro parágrafo. Avancemos, então, para aquilo que forma o motivo deste texto: os plásticos descartáveis.
Problemas ambientais relacionados com os plásticos
Uma parte muito considerável dos seres humanos vivem rodeados de plásticos. Mas nem sempre foi assim. A humanidade viveu grande parte da sua vida sem a existência de plásticos. Há milhares de anos usavam-se outros materiais como o barro, o osso ou a madeira. A Natureza fornecia o necessário e nós apenas precisávamos de adaptar o material ao objectivo a que se destinava. É verdade que, nessa altura, os nossos conhecimentos e o nosso estilo de vida eram diferentes. E claro que os séculos avançaram, a História desenvolveu-se e a tecnologia evoluiu. E foi durante a segunda metade do século XX que os plásticos começaram a ter a importância que actualmente têm, tornando-se gradualmente parte integrante do nosso mundo.
Não podemos negar que a invenção dos plásticos trouxe grandes benefícios para a humanidade, desde aplicações na exploração espacial até às nossas vidas no emprego e em casa. Porém, a sua existência trouxe também enormes problemas ambientais e nem as espécies que, connosco, partilham o planeta escapam a esse desastre (do qual não têm culpa).
Entre os produtos que são de plástico encontramos uma categoria à qual damos o nome de “plásticos descartáveis” (ou “de uso único”). Um nome que mostra exactamente aquilo que eles são e qual é o seu objectivo: usamos uma vez e descartamos. Desta categoria fazem parte as embalagens de iogurte, os pacotes de batatas fritas, as garrafas de água, as embalagens de bolachas, os sacos para o pão, embalagens de detergente, embalagens de gel de banho, embalagens de manteiga e muitos outros. É uma lista profundamente extensa. Todas estas embalagens e garrafas estão na nossa posse durante um tempo limitado (até, por exemplo, acabarmos de beber o refrigerante) e depois já não servem para mais nada e, por isso, descartamos.
E apesar de as descartarmos, essas embalagens e garrafas desaparecem das nossas mãos mas não desaparecem do planeta. Claro que uma parte será reciclada (ainda que esse método não seja o mais agradável para o ambiente). Porém, uma parte muito considerável dos plásticos descartáveis que se consomem em todo o mundo irá contribuir para aumentar a poluição plástica que existe em todos os lugares da Terra, das montanhas aos oceanos, passando pelos desertos e pelas cidades. Descartar plásticos é um pouco como varrer o lixo para baixo do tapete e depois enviar esse tapete e respectivo lixo escondido para uma lugar suficientemente longe da nossa vista para que não nos afoguemos na quantidade de plástico que aqui, na nossa região, descartamos. Mas adiante porque ainda não acabei de escrever.
O plástico pode demorar centenas de anos a degradar-se no ambiente, quebrando-se e transformando-se em microplásticos (o nome dado às partículas de tamanho inferior a 5 mm). Ou seja, um indivíduo da espécie humana que, na década de oitenta do século XX, tenha atirado a sua garrafa de água para o rio, essa mesma garrafa ainda irá existir no ano 2400. Estará quebrada ou transformada em microplásticos mas ainda existirá. E é isso que acontece a todos os plásticos descartáveis que mandamos para o ambiente. Ficam inteiros durante uns tempos, começam a quebrar-se em pedaços cada vez mais pequenos e tornam-se microplásticos.
Muitos dos plásticos descartáveis acabam nos oceanos. E tanto os pedaços maiores como os mais pequenos e também os microplásticos são muitas vezes ingeridos por seres vivos de diversas espécies que os confundem com alimento (como pode acontecer com os peixes, com as aves e outros). Esta é uma situação desastrosa para os seres vivos que ingerem plástico, causando-lhes problemas de saúde, lesões graves e a morte.
Esta rota do plástico foi iniciada por nós. Comprámos embalagens no supermercado, consumimos o seu conteúdo e descartámos a embalagem, prejudicando a biodiversidade. Mas a rota do plástico irá reencontrar-nos. Já foram encontrados microplásticos dentro de nós porque muitos alimentos que comemos e a água que bebemos estão também contaminados com essas partículas. A poluição plástica é tanta que nada lhe escapa.
Talvez a minha leitora ou o meu leitor tenha já ouvido falar das ilhas constituídas, sobretudo, por plásticos que usámos e deitámos fora nas diversas regiões do mundo e que se foram acumulando em alguns locais dos oceanos devido às correntes marítimas. A maior destas ilhas fica no Oceano Pacífico e tem uma superfície de cerca de um milhão e seiscentos mil km quadrados, uma área que corresponde à soma de França, Espanha, Finlândia, Grécia e Portugal. E estas ilhas de plástico formam apenas uma parte de toda a poluição plástica que se espalha por todo o planeta.
E, antes que me esqueça, temos também de incluir as minúsculas microesferas plásticas usadas, por exemplo, em produtos de cosmética e de limpeza. Estas microesferas saem da embalagem juntamente com o produto, passam intocadas pela canalização, atravessam sem problemas os filtros das estações de tratamento de águas residuais e terminam a sua viagem nos mares e nos oceanos.
Para concluir esta secção, lembremos um ponto que ainda não foi abordado. A maioria do plástico em circulação é produzido a partir de combustíveis fósseis o que, já de si, contribui para a manutenção desse tipo de combustíveis e respectivas consequências negativas para o meio ambiente e para a biodiversidade. Além disso, o processo de fabrico do plástico é tóxico. E só depois da extracção de combustíveis fósseis e de concluído o processo de fabrico é que encontramos nas prateleiras dos retalhistas todas aquelas embalagens e garrafas de plástico.
Dependência dos plásticos descartáveis
Quando compramos uma embalagem de bolachas, provavelmente não nos perguntamos durante quanto tempo irá essa embalagem ficar na nossa posse antes de nos desfazermos dela. Nós estamos, sobretudo, interessados no conteúdo da embalagem, ou seja, nas bolachas, e não tanto na embalagem (por muito interessante e atractiva que essa possa ser).
Apesar da sua hipotética atractividade, o único objectivo da embalagem é armazenar as bolachas no seu interior, isto, claro, além da estratégia de marketing que a desenvolveu e que tem como objectivo atrair consumidores. E até a mais bem concebida embalagem pode estar na nossa posse durante duas horas, durante meia dúzia de dias ou durante três ou quatro meses. Quando terminamos de consumir o conteúdo da embalagem, esta deixa de nos ser útil e há quem a recicle, há quem a coloque no lixo comum e há até quem a deite para o chão, falhando qualquer espécie de contentor destinado a recolher a embalagem.
Olhemos para o lado prático dos plásticos descartáveis. É prático retirarmos das prateleiras dos supermercados embalagens de iogurte em que apenas precisamos de retirar a película superior para os comer. É prático termos batatas fritas em que só precisamos de abrir o pacote para as saborear. É prático termos refeições pré-cozinhadas que só precisam de ser aquecidas. É prático termos água em garrafas de plástico, pronta a levar para onde quer que seja. E também deverá ser prático para os fabricantes dos produtos que compramos.
Tudo isto é muito prático. O único trabalho que nos dá é abrir e comer (ou beber). Depois livramo-nos da embalagem (ou da garrafa) e não pensamos mais no assunto. Mas talvez pensemos que, na próxima ida ao supermercado, temos de voltar a comprar iogurte, batatas fritas, água, talvez umas bolachas, gel de banho, manteiga, queijo e mais uma ou outra coisa que, certamente, será lembrada.
Este lado prático é uma importante causa para a nossa dependência dos plásticos descartáveis. Mas pelas razões que fui abordando ao longo deste texto, esta dependência forma uma situação contrária àquilo que se pretende quando querermos deixar de poluir o mundo com plásticos. O nosso mundo está a afogar-se em plástico e é dever de cada um de nós reduzir o uso de plásticos e, em particular, o consumo de plásticos descartáveis.
Como reduzir o consumo de plásticos descartáveis
O ideal seria eliminar por completo o consumo de plásticos descartáveis mas pode ser complicado conseguirmos essa situação ideal. Portanto, será já uma ajuda substancial se conseguirmos reduzir o mais possível a quantidade de plásticos descartáveis que compramos. Seguem-se algumas sugestões que devemos seguir.
Saber a quantidade de plástico descartável que cada um de nós consome
Esta sugestão é apenas uma fase introdutória. Segui-la é, sobretudo, uma curiosidade e não traz nenhum benefício para o meio ambiente nem para a biodiversidade. Além disso, serve apenas para adiarmos num mês uma prática que pode ser aplicada a partir de agora. Podemos, portanto, avançar já para a primeira sugestão, sem necessidade de desenvolver o exercício que é exposto de seguida.
Durante um mês guarde todas as embalagens de plástico descartável que comprou e/ou que foi consumido em sua casa. Mesmo que o produto que a embalagem contenha tenha terminado, não descarte a embalagem. Guarde-a. Guarde tudo durante um mês. Após o final desse mês, multiplique a quantidade por doze e essa será, aproximadamente, a contribuição anual da sua casa para o consumo de plásticos descartáveis. De seguida, multiplique a sua quantidade anual pelo número aproximado de famílias na sua rua, no seu bairro e na sua localidade. Claro que o resultado obtido pode não corresponder ao valor real porque deverá haver quem consuma menos e quem consuma em maior quantidade mas é útil para termos uma ideia da quantidade de plástico descartável que se consome.
1. Não comprar sacos de plástico
Não é necessário comprar sacos de plástico para transportar as suas compras de supermercado. Há diversas outras soluções reutilizáveis, como sacos de algodão ou as caixas de cartão que vários supermercados colocam à disposição junto à linha de caixas.
2. Não comprar fruta e vegetais pré-embalados
Não devemos comprar frutas e vegetais pré-embalados. Devemos adquiri-los avulso. Nós apenas comemos a fruta e os vegetais. O plástico que os embala será descartado.
E, além disso, não é necessário retirar um saco de plástico do dispensador para transportar a fruta e os vegetais. Basta fazer a nossa escolha e colocar as peças escolhidas dentro do cesto ou do carrinho de compras e pesar na caixa na altura do pagamento. Ou, como acontece em muitos supermercados, é o próprio cliente que faz a pesagem do produto e, para isso, coloca as maçãs, as laranjas, a alface ou o que for na balança e insere o código do produto no teclado que, como resposta, entrega um autocolante com o nome do produto, o valor a pagar e outras informações. Retiramos o autocolante e colamo-lo, por exemplo, no cesto ou no carrinho. Quando chegamos à caixa para pagar, é suficiente entregar o autocolante ao funcionário da caixa ou, se optarmos pelas caixas self service, passarmos o autocolante no leitor. É simples e nada de saco de plástico.
3. Não comprar produtos com demasiado acondicionamento
Há uma situação que terá acontecido a muitos de nós: compramos um produto, abrimos a embalagem e, para envolver esse produto, além da embalagem exterior, existe a interior e existem também películas plásticas (e, em certos casos de papel) para continuar a resguardar o produto. Trata-se, provavelmente, de um produto com demasiado acondicionamento.
Produtos como estes, produtos com embalagens demasiado grandes para a quantidade dispensada, embalagens em excesso ou qualquer outro caso que possa traduzir-se em demasiado acondicionamento, devem ser evitados. Devemos procurar alternativas com acondicionamento adequado.
4. Não comprar produtos que contenham microesferas plásticas
Como anteriormente mencionado neste texto, as microesferas plásticas fazem parte de diversos cosméticos e de vários produtos de limpeza, entre outras aplicações. E como também sabemos, estas microesferas passam intocadas na canalização e vão aumentar a poluição plástica.
5. Produtos com embalagem descartável
Este é, provavelmente, o ponto mais complicado. É aqui que se incluem os iogurtes, a manteiga, o queijo, o fiambre, o chouriço, as bolachas, as batatas fritas, a água, os refrigerantes, as refeições pré-cozinhadas, os detergentes e outros.
Apesar de poder ser o ponto mais complicado, devemos reduzir o mais possível a compra de produtos que estejam embalados em plástico descartável. Talvez possa ser possível encontrar alternativas mais saudáveis para o meio ambiente e para a biodiversidade. Talvez possamos reduzir substancialmente a compra de refeições pré-cozinhadas e de determinados refrigerantes. Talvez possamos gastar um pouco menos de manteiga para podermos espaçar mais as compras desse produto. Talvez possamos reduzir a compra de um pouco de tudo.
Algumas marcas disponibilizam recargas para o reenchimento de embalagens previamente compradas pelos consumidores. Porém, em vários casos estas recargas não trazem grandes benefícios para a saúde do ambiente e da biodiversidade (não esquecer que as embalagens das recargas poderão conter plástico na sua composição).
Conclusão
Pode não ser fácil reduzir o nosso consumo de plásticos descartáveis numa sociedade que está dependente de plásticos descartáveis. Mas se conseguirmos reduzi-lo o mais possível, estaremos já a reduzir a nossa contribuição para o problema da poluição plástica (com todas as suas consequências) e, por arrasto, a reduzir o consumo de combustíveis fósseis e respectivos problemas ambientais por eles causados. Os consumidores devem fazer a sua parte mas também os fabricantes terão também de fazer a deles. É necessário fazer um esforço comum.
O problema da poluição plástica diz respeito a todos os seres vivos de todas as espécies que habitam na Terra, incluindo a nossa espécie. Porém, fomos nós, seres humanos, que criámos esse problema.
Talvez um dia, lá mais para diante, exista um material que seja verdadeiramente biodegradável, como se fosse matéria orgânica, para substituir os actuais plásticos em circulação.