Todos nós, muito provavelmente, já ouvimos falar do aquecimento global e dos gases com efeito de estufa e, muitas vezes, estes temas surgem acompanhados pelo consumo que fazemos dos combustíveis fósseis. E até podemos dizer que os combustíveis fósseis estão no centro do aquecimento global. E mesmo fora deste contexto, este tipo de combustíveis pode ser chamados à conversa, seja porque aconteceu um derrame de petróleo, seja devido à expansão de uma mina de carvão, seja por um outro assunto que, de alguma maneira, lhes esteja relacionado. E ouvimos falar deles há décadas. E ouvimos dizer que são prejudiciais para o ambiente e para a biodiversidade. E que temos de nos virar para fontes de energia mais limpas.
Mas o que são os combustíveis fósseis? E que relação têm eles com os gases com efeito de estufa? E que relação temos nós com o aquecimento global e com esses gases?
O que são os combustíveis fósseis?
O petróleo, o carvão e o gás natural são combustíveis fósseis e são formados a partir da decomposição de animais e de plantas que viveram e morreram há milhões de anos. Além destes três, também o xisto betuminoso e as areias betuminosas, entre outros, pertencem a essa categoria de combustíveis.
Apesar dos combustíveis fósseis terem vindo a ser usados por nós desde há milhares de anos, foi a partir do século XVIII, com o advento da Revolução Industrial, que a sua utilização se intensificou. E, actualmente, fazem parte do nosso dia-a-dia. Nós estamos, efectivamente, rodeados por produtos criados a partir de combustíveis fósseis ou que possuem componentes produzidos a partir deles. Os exemplos que, imediatamente, nos vêm à memória são a gasolina, o gasóleo, os plásticos e a electricidade. Mas há mais. A lista é enorme, são milhares de produtos: o nylon, os cosméticos, o combustível usado pelos aviões, a borracha sintética, o asfalto das estradas e muitos outros.
A nossa sociedade tornou-se dependente dos combustíveis fósseis. Eles gerem a nossa vida, não apenas através dos plásticos, da electricidade, da gasolina e de todos os outros produtos que utilizamos mais ou menos frequentemente, mas também através da organização geo-política e económica, por vezes conflituosa, que tem vindo a acontecer no nosso planeta. E claro que todo este consumo de combustíveis fósseis traz consequências negativas para o meio ambiente e para a biodiversidade.
Combustíveis fósseis: extracção e acidentes
Mais perto da superfície terrestre ou mais longe dela, na direcção das profundezas da Terra, os combustíveis fósseis têm de ser extraídos. Temos de os obter através de diversos processos que estão, obviamente, dependentes do tipo de combustível em causa. Mas a sua extracção traz resultados devastadores para a região geográfica onde se obtêm e até para além dela: os ecossistemas são destruídos, o solo é deteriorado, são criados problemas de saúde, a paisagem é destruída e o ar, a água e o solo são contaminados por substâncias tóxicas.
Mas o seu impacto negativo não se fica apenas pela extracção. Todos nós nos lembramos dos derrames de petróleo que, por vezes, acontecem. Alguns são pequenos mas outros são gigantescos. E quem sofre as consequências são as espécies que, connosco, partilham o planeta Terra. São imagens devastadoras as que vemos quando acontece um acidente desse tipo. Os derrames de petróleo têm um impacto catastrófico nos ecossistemas, afectando e matando milhões de seres vivos que habitam a região afectada. E claro que as comunidades de seres humanos que vivem na região são também afectadas de diversas maneiras.
Emissões resultantes do consumo de combustíveis fósseis
O impacto negativo criado pelos combustíveis fósseis não se fica apenas pelo originado devido à sua extracção, derrames e fugas. Quando os usamos, os efeitos que daí advêm são também prejudiciais.
Os combustíveis fósseis passam por um processo de combustão de modo a gerarem energia. E nós usamos essa energia para produzir electricidade ou para alimentar os nossos meios de transporte, sob a forma de gasolina, de gasóleo ou outro.
As emissões resultantes do processo de combustão originam várias consequências negativas: emitem dióxido de carbono e metano (que são gases com efeito de estufa, contribuindo para o aquecimento global), emitem dióxido de enxofre (que contribui para a formação de chuva ácida), emitem mercúrio e outros metais pesados (que estão associados a problemas de saúde neurológicos), e emitem óxidos de nitrogénio (que estão associados a problemas de saúde respiratórios e contribuem para a formação de chuva ácida).
O que é o efeito de estufa?
A Terra está envolvida por uma camada de gases a que damos o nome de “atmosfera”. Entre eles encontramos o nitrogénio, o oxigénio, o árgon, o dióxido de carbono, o metano e o vapor de água. Alguns são gases com efeito de estufa como, por exemplo, o dióxido de carbono, o vapor de água e o metano. E são assim chamados porque são os responsáveis pela criação do efeito de estufa e existem naturalmente na nossa atmosfera.
A energia que recebemos do Sol atravessa a atmosfera terrestre e é absorvida pelo nosso planeta, fazendo com que a sua superfície aqueça. Esta energia, este calor, que a Terra recebe é, posteriormente, irradiado de volta para o espaço mas uma parte é absorvido pelos gases com efeito de estufa que existem na atmosfera, enviando-o novamente para a Terra, aquecendo ainda mais a sua superfície. E é a este processo de aquecimento da superfície terrestre que chamamos de efeito de estufa e é um fenómeno natural no nosso planeta. Sem ele, a Terra seria um planeta gelado e muito diferente daquele que conhecemos. E as formas de vida, a existirem, seriam também muito diferentes.
Quanto maior for a concentração de gases com efeito de estufa na atmosfera, maior é o aprisionamento de calor e mais intenso é o efeito de estufa e, como resultado, a temperatura média à superfície da Terra vai aumentando. E é a isto que se chama de aquecimento global.
O efeito de estufa não é um fenómeno natural exclusivo da Terra. Encontramo-lo também em Vénus, cuja atmosfera (composta quase exclusivamente por dióxido de carbono) é muito mais densa que a da Terra.
Quais são as causas do aquecimento global?
Por vezes, encontramos a expressão “alterações climáticas” confundida com o fenómeno do aquecimento global. Mas enquanto o aquecimento global se refere ao aumento da temperatura média global ao longo do tempo, as alterações climáticas são variações nos padrões climáticos que acontecem em intervalos de tempo longos.
O clima é uma entidade dinâmica e, como tal, sofre alterações ao longo do tempo. Existem diversas causas naturais que provocam as alterações climáticas e que vão desde variações na órbita da Terra, até à actividade vulcânica, passando por alterações nos níveis de dióxido de carbono presentes na atmosfera e por mudanças na actividade solar, entre diversos outros factores. E, claro, cada uma destas causas tem as suas próprias causas naturais e as suas próprias consequências.
E, tal como acontece com com o clima, a temperatura média global à superfície da Terra não é sempre a mesma, sofrendo variações ao longo do tempo. Já atravessámos épocas em que era superior à actual e já atravessámos épocas em que era inferior. Quando olhamos para o passado, e no que respeita ao aquecimento global, sabemos que este fenómeno aconteceu em épocas em que a nossa espécie ainda não existia. No entanto, o aquecimento global que acontece actualmente é diferente, pois as causas naturais que têm vindo a acontecer não o justificam. Mas o facto é que estamos a viver um período de aquecimento global e a causa para tal tem origem na nossa espécie. Somos nós, seres humanos, que o estamos a causar através do consumo de combustíveis fósseis, da desflorestação, da emissão de gases fluorados e da emissão de óxido nitroso, mencionando apenas alguns factores. Por outras palavras, estamos a enviar gases com efeito de estufa para a atmosfera terrestre. E estamos, não apenas, a enviar aqueles que lá existem naturalmente, como o dióxido de carbono, mas também a acrescentar gases com efeito estufa sintéticos como, por exemplo, os hidrofluorcarbonetos e o hexafluoreto de enxofre, entre outros.
Não podemos dizer que a emissão de gases com efeito de estufa com origem antropogénica é uma situação criada por meia dúzia de países. É, antes, um fenómeno que acontece de forma generalizada um pouco por todo o mundo havendo, claro, determinados países que têm mais responsabilidades no caso.
O que podemos fazer para minimizar o aquecimento global?
Sendo nós, seres humanos, os causadores do actual aquecimento global, cabe-nos reduzir ou eliminar os aspectos das nossas vidas que estão a contribuir para esse fenómeno. Seguem-se algumas alterações que devemos implementar no nosso dia-a-dia.
1. Reduzir o consumo e a dependência dos combustíveis fósseis
Este é, provavelmente, o aspecto mais falado quando se trata de minimizar o aquecimento global. E, para o conseguirmos devemos, sempre que possível, deslocar-nos a pé ou de bicicleta, devemos reduzir o consumo de electricidade (sobretudo se esta for produzida a partir de combustíveis fósseis), devemos carregar as baterias do veículo eléctrico na altura em que a electricidade não for produzida a partir de combustíveis fósseis e devemos minimizar o consumo de plásticos (em particular, dos plásticos descartáveis).
2. Evitar contribuir para a desflorestação
As árvores e as florestas oferecem-nos muitos benefícios. Um deles surge a partir da fotossíntese: as árvores absorvem dióxido de carbono, muito dele produzido pelas actividades humanas, e armazenam-no no seu interior. Desta maneira, minimizam a presença deste gás na atmosfera e, em troca, dão-nos o oxigénio que precisamos para viver.
Mas a desflorestação, além da destruição de ecossistemas e de colocar espécies no caminho da extinção, implica a redução de árvores. Quanto menos árvores houver, menos dióxido de carbono é absorvido, o que significa que este gás com efeito de estufa permanece na atmosfera terrestre. Além disso, quando a madeira é queimada (durante um incêndio florestal, por exemplo) o dióxido de carbono que estava armazenado nas árvores é libertado de volta para a atmosfera.
Para evitarmos contribuir para a desflorestação, devemos evitar o consumo de produtos que causam a eliminação de florestas. Devemos evitar comprar produtos que contenham óleo de palma, um material amplamente usado e que está presente numa imensa lista de produtos mas que pode ser extremamente difícil de evitar e, além disso, os materiais que podem ser alternativas em relação ao óleo de palma não parecem ser ambientalmente melhores. Devemos ter em atenção a compra de produtos que contenham materiais como o ouro, o lítio e a bauxite, entre outros, porque a indústria mineira é também uma causa da desflorestação e, além disso, degrada e destrói ecossistemas, reduzindo ou eliminando a biodiversidade. Não devemos desperdiçar papel (que está ligado à indústria madeireira) e não devemos ter comportamentos que possam levar ao deflagrar de incêndios florestais.
3. Reduzir a emissão de gases fluorados
Os gases fluorados são gases com efeito de estufa criados artificialmente e muito mais potentes que o dióxido de carbono. Têm diversas aplicações como, por exemplo, nos equipamentos de ar condicionado e nos sistemas de refrigeração comercial e industrial. Para reduzir a emissão destes gases, devemos evitar utilizar o ar condicionado. Muitas vezes, abrir uma ou duas janelas tem o mesmo efeito de arrefecimento, além de que permite a circulação livre de ar.
4. Reduzir a emissão de óxido nitroso
O óxido nitroso existe naturalmente na atmosfera terrestre mas é também produzido pelas actividades humanas, nomeadamente pela aplicação de determinados fertilizantes, pela utilização de combustíveis fósseis e através de algumas actividades industriais. Mas podemos contribuir para a redução da emissão de óxido nitroso se optarmos por consumir produtos alimentares produzidos através de sistemas agrícolas mais agradáveis para o meio ambiente e para a biodiversidade.
Conclusão
Uma sociedade como aquela que temos vindo a construir necessita de energia, não apenas para fazer mover os meios de transporte, mas também para termos electricidade. E nós temos vindo a apoiar-nos nos combustíveis fósseis para produzir gasolina, gasóleo e electricidade. Mas temos vindo, segundo parece, a tentar reduzir a nossa dependência dos combustíveis fósseis e, no que respeita à electricidade, temos outras formas de a produzir, entre elas, o vento e o Sol.
Mas a dependência que temos dos combustíveis fósseis vai além dos meios de transporte e da electricidade. Como foi mencionado anteriormente, estamos rodeados por produtos que precisam deles para serem produzidos, como os plásticos, por exemplo.
A enorme necessidade que temos tido da existência de combustíveis fósseis para moldar a sociedade humana como a conhecemos é um factor que contribui para o aquecimento global mas que também propicia as circunstâncias para a criação de problemas ambientais e de ameaça à biodiversidade. E mesmo que agora, neste momento, deixemos de consumir combustíveis fósseis, os efeitos da dependência que deles temos tido ao longo da História ainda vão perdurar durante muito tempo. Os gases com efeito de estufa não desaparecem da atmosfera terrestre em dois ou três dias. O dióxido de carbono pode ficar na atmosfera durante centenas de anos, o óxido nitroso permanece durante pouco mais de cem anos e os gases fluorados ficam entre algumas semanas e alguns milhares de anos. A isto acrescenta-se a degradação e a destruição de ecossistemas (motivadas pela extração, derrames e fugas) e a redução da biodiversidade. Portanto, no caso de subitamente, neste século XXI, deixarmos de usar combustíveis fósseis, várias das gerações vindouras ainda vão sentir os efeitos daquilo que temos vindo a fazer no passado e no presente.
E claro que, além das coisas que emitem gases com efeito de estufa como a gasolina, a electricidade, os plásticos e determinados fertilizantes, há um outro factor que não podemos ignorar. Quem consome todas essas coisas somos nós. Isto quer dizer que, potencialmente, cada um de nós é uma fonte emissora de gases com efeito de estufa. E quanto mais fontes houver, maior é a necessidade de produzirmos e de extrairmos aquilo que precisamos para conseguirmos abastecer a população. E surge aqui o problema da sobrepopulação humana que abordei neste outro texto aqui. Quanto maior for a quantidade de indivíduos da espécie humana, maior é a necessidade de produzir, extrair e abastecer (com gasolina, com electricidade, com alimentos, com óleo de palma, com plásticos e com uma série de outros produtos). E, obviamente, que o resultado de servir os mais de oito mil milhões de seres humanos tem custos negativos no meio ambiente e na biodiversidade.
Claro que nem todos têm automóvel, nem todos consomem plásticos descartáveis até à exaustão e nem todos utilizam electricidade produzida a partir de combustíveis fósseis. E há até muitos que evitam contribuir negativamente para o meio ambiente e para a biodiversidade. Mas, mesmo assim, o peso da sobrepopulação humana pede um esforço gigantesco à Natureza e, em particular, ao consumo que fazemos dos combustíveis fósseis e que se reflecte nas suas consequências.
Como o problema da sobrepopulação humana só pode ser resolvido ao longo de várias gerações devemos, actualmente, ter determinados cuidados para evitarmos contribuir para a dependência dos combustíveis fósseis, para o aquecimento global, para a degradação e destruição de ecossistemas e para a redução da biodiversidade. Temos de tentar deixar um mundo um pouco mais limpo e equilibrado para as gerações seguintes.