Nunca conduzi um Renault 4 mas fui passageiro algumas vezes. É um daqueles modelos pelos quais sinto particular interesse. Não necessariamente pela sua beleza (que é um quadrado embutido num rectângulo), pela sua potência (ou falta dela), pela sua velocidade (quase sendo ultrapassado por um cavalo a correr) ou pelo seu interior parcamente espaçoso ou luxuoso. E nem sequer é um automóvel que eu tenha vontade de adquirir. Mas o Renault 4 é um daqueles modelos em torno dos quais parece haver uma espécie de aura magnética. Há algo de chamativo nele.
Claro que estou a falar de um ponto de vista pessoal e certamente haverá quem olhe para o Renault 4 da mesma maneira que eu olho para o Morris Marina ou para o Peugeot 205, por exemplo (os quais não me dizem absolutamente nada).
Mas foquemo-nos mais um pouco no Renault 4 e observemo-lo. Os limpa para-brisas (quando parados) estacionam a meio do vidro, possui uma forma exótica de aumentar e diminuir as mudanças da caixa de velocidades, não podemos dizer que é o mais confortável dos automóveis e nem os valores da aerodinâmica são exemplares.
Não vou, obviamente, falar de coisas cuja introdução (ou obrigação) foi posterior à chegada do Renault 4 às estradas, que aconteceu no início dos anos 1960s. Coisas como os airbags e outros assuntos relacionados com a segurança e com a electrónica. Sabemos bem que os modelos que vão sendo lançados vão acomodando essas novidades à medida que elas vão estando disponíveis e/ou à medida que vão passando a ser obrigatórias. E sabemos que essa acomodação implica diversas alterações, não apenas no formato exterior do carro mas também no habitáculo dos passageiros e noutros locais invisíveis. Portanto, não podemos esperar que o Renault 4 possua ou sequer tivesse vindo preparado para as coisas que nos habituámos a encontrar em modelos lançados nas duas ou três décadas mais recentes.
Entendamos, portanto, o Renault 4 como um automóvel simples, que faz aquilo que se espera que faça e que é levar passageiros do ponto A para o ponto B. Tal como, aliás, outros modelos fazem, muitos até mais confortavelmente ou mais rapidamente.
Posto tudo isto, parece-me claro que nenhum dos aspectos que tenho vindo a atravessar ao longo deste escrito tornam o Renault 4 em algo de extraordinário. Nada nele se salienta em relação a outros que vão (ou foram) viajando pelas estradas. Temos, então, um automóvel vulgar. Tão vulgar como tantos outros que por aí andam ou andaram, incluindo aqueles que, por uma ou por outra razão, caem ou caíram no esquecimento.
Então, o que torna algo tão vulgar, e que nem sequer sei se chega a um nível mediano, numa coisa capaz de atrair um humano (como eu ou como outros que apreciam o Renault 4)? E nem sequer tenho interesse ou vontade em fazer-me sócio de um clube de apreciadores desse automóvel.
Talvez haja automóveis que nasceram para ocuparem um lugar na História. E talvez seja esse o lugar do Renault 4. Ou não.