Pois, é verdade. Segundo um estudo publicado pelo Journal of Biological Conservation, 40% das espécies de insectos estão em risco de extinção. Este cenário catastrófico de declínio populacional dos insectos é também indicado em outros estudos (entre eles, os publicados no PLOS One e no Proceedings of the National Academy of Sciences of the United States of America).
A quantidade de insectos tem vindo a diminuir dramaticamente ao longo das décadas mais recentes. E adivinhe-se quem é o culpado. Mas já lá vamos. Façamos, antes, uma visita ao mundo dos insectos.
O mundo dos insectos
Os insectos habitam o planeta Terra há mais de trezentos milhões de anos e têm um papel importantíssimo nos ecossistemas. São como uma força invisível ou quase invisível que trabalha incessantemente, dando muita da vida ao nosso mundo. E há muitos que nem sequer nos apercebemos da sua presença, por serem muito pequenos ou por passarem despercebidos. Mas todos eles, desde o maior até ao mais pequeno, partilham o planeta connosco e vivem as suas vidas.
Enquanto vão vivendo as suas vidas, os insectos possuem importantes funções nos ecossistemas.
1. Polinização
Os insectos são essenciais para a polinização. Cerca de 80% das espécies de plantas com flor dependem deles para essa tarefa.
A polinização consiste na transferência de grãos de pólen dos órgãos masculinos de uma planta para os órgãos femininos da mesma ou de outra planta, mas da mesma espécie. E é este processo que permite que uma determinada espécie de planta continue a reproduzir-se geração após geração.
A polinização é essencial não apenas para as espécies de plantas que encontramos um pouco por todo o mundo, mas também para várias culturas agrícolas que encontramos na nossa mesa de refeições.
2. Limpeza e reciclagem
A Natureza tem o seu próprio sistema de limpeza e de reciclagem e é nele que encontramos organismos como as bactérias e os fungos, que se alimentam de matéria orgânica morta, como os corpos de animais ou de plantas. A função desses organismos é essencial na perpetuação do ciclo da vida. Eles transformam a matéria orgânica morta em nutrientes, reenviando-os para a cadeia alimentar.
Os necrófagos, como os abutres, ajudam a que mais rapidamente os corpos desapareçam da paisagem. Mas
também algumas espécies de insectos têm o seu papel em todo este processo de limpeza, de reciclagem e de manutenção da saúde de um ecossistema. Certas moscas põem os seus ovos no interior dos corpos de animais que morreram e, quando eclodem, as larvas alimentam-se da carne em putrefacção. Temos também as térmitas que se alimentam de madeira podre ou em apodrecimento.
Os excrementos são também motivo de interesse para alguns insectos. As larvas de algumas espécie de mosca alimentam-se deles. E alguns escaravelhos fazem bolas com esse material, levando-as para lugar seguro para servirem de alimento à sua descendência.
Esta equipa de limpeza e de reciclagem dos ecossistemas tem, no seu conjunto, um papel fundamental. Sem eles, os corpos de animais, a madeira podre e os excrementos acumular-se-iam na paisagem durante muito tempo.
3. Dispersão de sementes
As plantas estão fixas à terra e, por isso, não podem deslocar-se para fazerem a dispersão das suas sementes para longe do lugar em que cresceram. É-lhes necessário ter outros métodos para essa tarefa. O vento e a água são dois, mas também através dos mamíferos, das aves e dos insectos que, de alguma maneira, têm contacto com as plantas ou com as sementes.
As formigas, por exemplo, transportam sementes para as suas colónias para lhes servirem de alimento mas algumas são perdidas pelo caminho e acabam por germinar ao longo do percurso. Outras sementes, as que possuem um corpo gorduroso preso à sua superfície externa, recebem outro tratamento. Ao chegar à colónia, este corpo gorduroso é comido pelas formigas e a semente é descartada, podendo germinar posteriormente.
Além das formigas, há outros insectos que são também responsáveis pela dispersão de sementes. Encontramos novamente o escaravelho que faz bolas de excremento. Estas bolas contêm sementes que não foram digeridas pelo sistema digestivo do seu autor e que podem germinar após este insecto esforçado ter feito o seu percurso, levando a bola para outras paragens.
4. Cadeia alimentar
E, claro, muitas espécies de aves, de mamíferos, de anfíbios e de répteis dependem dos insectos como fonte de alimento. Os insectos são importantíssimos na cadeia alimentar dos ecossistemas.
Consequências da extinção dos insectos
Na secção anterior fiz apenas uso de quatro insectos para criar um quadro de funções nos ecossistemas. E nem sequer mencionei as espécies (nem com o seu nome comum, nem com o nome científico). Servi-me de moscas, de térmitas, de escaravelhos e de formigas, além de insectos no geral. Esta pequena lista informal que elaborei serve apenas para criar um cenário de apresentação para a secção que agora desenvolvo.
Dada a importância que os insectos têm nos ecossistemas, é natural que o seu desaparecimento em massa conduza a diversas consequências. Para começar, sendo eles alimento para uma enorme quantidade de espécies de aves, de mamíferos, de anfíbios e outros, as que se alimentam exclusivamente ou principalmente de insectos, nem que seja durante uma fase das suas vidas, iriam ver as suas populações diminuirem ou mesmo extinguirem-se por falta de alimento.
Tudo está ligado nos ecossistemas e se removermos ou alterarmos substancialmente um elo importante, como são os insectos, todo o ecossistema é atingido. Quer isto dizer que a diminuição da população de insectos implica menos comida disponível. Havendo menos comida, aqueles que deles se alimentam têm, forçosamente, de se tornar menos numerosos porque a comida não chega para todos e, como consequência, muitos morrem à fome e muitas espécies serão levadas à extinção. E o problema não acaba aqui porque as espécies que dependem dos insectos como fonte de alimento fazem, muitas delas, parte da dieta alimentar de outras espécies. O que significa que estas outras espécies irão também sofrer as consequências do enorme declínio populacional dos insectos.
Para termos uma ideia do que afirmei no parágrafo anterior, 60% das espécies de aves dependem dos insectos como fonte de alimento. E, actualmente, há já espécies de aves que estão em declínio populacional devido à enorme redução da quantidade de insectos que têm à disposição para comer. Crie-se um cenário a partir daqui.
As plantas iriam também ser afectadas porque os insectos estão intimamente ligados à polinização. E se os insectos desaparecerem, iremos assistir a um decréscimo de espécies vegetais.
Iria também haver consequências nos serviços de limpeza e de reciclagem que, muito provavelmente, deixariam de ser tão eficientes. Ainda que, o caso do desaparecimento em massa de insectos possa dar origem a uma menor quantidade de corpos de animais porque, não nos esqueçamos, muitas espécies de aves, de mamíferos, de répteis e outros seriam levadas à extinção devido à fome.
Portanto, na prática, sem insectos os ecossistemas colapsam porque há muita vida que depende deles. O resultado será catastrófico.
Podemos ver todo este cenário a partir de outra perspectiva: se a espécie humana se extinguisse, a Natureza voltaria ao estado de equilíbrio que acontecia há uns dez mil anos. A Natureza só iria dar pela nossa ausência porque se sentiria revigorada, deixando de estar sujeita à imensa pressão que nós lhes estamos a impor. Mas se os insectos desaparecerem, a biodiversidade do planeta seria enormemente afectada. Os ecossistemas colapsariam e muito daquilo que faz parte das paisagens da Terra deixaria de existir. A extinção dos insectos iria provocar um efeito em dominó que se faz sentir em cada parte do planeta.
E mesmo que possa ser improvável que todas as espécies de insectos se extingam, é indiscutível que um desaparecimento em massa, terá consequências catastróficas. Nos ecossistemas tudo e todos vivem em interdependência.
Causas do declínio populacional dos insectos
Chegámos, então às causas. Ou, mais especificamente, a quem está a causar o declínio populacional dos insectos.
Claro está que somos nós. Quem mais? O tal de Homo Sapiens. A espécie que diz que sabe.
Avancemos rapidamente para as causas.
1. Uso de pesticidas e de insecticidas na agricultura
Uma das principais causas do enorme declínio populacional dos insectos acontece devido à utilização de pesticidas e de insecticidas na agricultura. Os insecticidas e os pesticidas não fazem distinção entre os insectos que atingem e, para eles, um insecto polinizador é exactamente igual a um insecto que é considerado uma praga. Como tal, todos os insectos são eliminados.
E claro que a aplicação destes produtos químicos tóxicos não termina no limiar da área agrícola. As suas partículas podem ser levadas pelo vento para longe do local onde foram aplicados, indo contaminar as plantas e os insectos a vários quilómetros de distância. E os mamíferos, as aves e os anfíbios são também atingidos. Estes produtos amplamente usados e altamente tóxicos, destroem a a biodiversidade.
2. Desflorestação
Actualmente foram já identificadas pela ciência mais de um milhão de espécies de insectos mas estima-se que esse número possa ascender a dez milhões. Estima-se que os insectos perfaçam 90% de todas as espécies de animais do planeta.
Os insectos são, claramente, uma história de sucesso. Eles estão presentes em quase todos os habitats do mundo, desde regiões montanhosas até aos desertos quentes e áridos e também na Antártida. E claro que as florestas tropicais de chuva, como na América do Sul, em África ou no Sudeste Asiático, não são excepção. Mas estas florestas estão também no centro das atenções por razões que em nada favorecem a preservação da biodiversidade.
A desflorestação é algo que tem vindo a acontecer a um ritmo alarmante, ignorando, muitas vezes, as leis de protecção da Natureza. E o resultado desta desflorestação absurda é a fragmentação e a destruição dos habitats dos seres vivos de diversas espécies, entre elas, os insectos, que viviam na região afectada. E se um determinado habitat não possuir as condições necessárias para a sobrevivência de uma determinada espécie, essa mesma espécie começa a ver a sua população a diminuir, podendo iniciar a sua caminhada rumo à extinção.
A desflorestação é, em si, a causa da expansão de zonas urbanas ou turísticas, da expansão das actividades agrícola ou mineira, da indústria madeireira e dos incêndios florestais. Portanto, cada vez que algum destes factores elimina área florestal está a causar a destruição dos ecossistemas e respectivas espécies.
3. Expansão urbana
A expansão da área urbanizada faz-se à custa da conquista de espaço à Natureza. Os novos edifícios que vão sendo construídos, em particular, na periferia das cidades, das vilas ou das aldeias, vão ocupando a área que era uma floresta, um prado ou até um pântano. E é necessário desflorestar, arrasar um prado e drenar um pântano para podermos construir edifícios nessas zonas. Na prática, estamos a destruir ecossistemas. Estamos a destruir o local de habitação de variadas espécies que aí faziam a sua vida, entre elas, os insectos. Estamos a retirar-lhes o território, as fontes de alimento e a limitar as suas possibilidades de reprodução. Ou seja, estamos a ajudar a colocar essas espécies na lista das ameaçadas de extinção.
Quanto maior for a área do planeta ocupada pelos nossos edifícios e pelas nossas infraestruturas, menor é a área que sobra para os ecossistemas naturais. Há aqueles filmes em que vemos o herói a ser ameaçado por uma parede que avança sobre si com o objectivo de o esmagar contra a parede oposta. A expansão urbana e turística (e também a agrícola, a mineira e a madeireira) é essa parede que avança, não sobre o herói do filme, mas sim sobre os insectos, as aves, os répteis, os mamíferos e todos os outros que compõem a biodiversidade não humana da Terra.
4. Poluição luminosa
Para nós, humanos, a iluminação nocturna tem utilidade porque o nosso sentido da visão não está adaptado para ver no escuro. Porém, quando essa iluminação é excessiva, está mal direccionada ou é inútil toma o nome de poluição luminosa e é um problema que existe nos locais onde os humanos marcam a sua presença. É particularmente visível nas zonas urbanas mas vai muito além das cidades.
Muitas espécies são nocturnas e a existência de iluminação artificial é particularmente perturbadora para várias como, por exemplo, as borboletas nocturnas que costumam voar em torno dos candeeiros. Há várias teorias que explicam este comportamento mas, independentemente da razão que as leva a serem atraídas pela luz, estima-se que um terço dos insectos que são vistos a voar em torno de cada candeeiro não sobrevive até à manhã seguinte, sucumbindo muitos indivíduos por exaustão.
As borboletas nocturnas são importantes insectos polinizadores. E quanto menor for a sua quantidade, mais difícil se torna a polinização (com as consequências que daí advêm).
Algumas zonas urbanizadas têm vindo a melhorar o seu sistema de iluminação nocturna para o tornar menos prejudicial para as espécies. Mas há ainda muito trabalho a fazer em relação a este assunto.
5. Outras causas
Além das causas que acima fiz saber, há diversas outras que contribuem para o declínio populacional dos insectos: a poluição industrial, a poluição dos rios e dos lagos, o aquecimento global, a introdução de espécies invasivas e a sobrepopulação humana.
Mas todas as causas que estão a contribuir para o declínio populacional dos insectos têm um elemento em comum: a acção humana.
Conclusão
Os insectos são de extrema importância para a preservação da biodiversidade. Mas a forma como a espécie humana vive e o enorme esforço que estamos a pedir à Natureza está a ter um impacto negativo profundo no ambiente e na biodiversidade.
À medida que vamos tornando as paisagens do planeta mais humanizadas, vamos destruindo os ecossistemas naturais e estamos a reduzir a biodiversidade. Todas as espécies estão a ser apanhadas na malha destrutiva criada pelos humanos. Há umas que até podem adaptar-se às paisagens humanizadas mas a maioria não deverá sobreviver.
Como se sabe, a extinção de uma espécie pode ocorrer devido a causas naturais mas é indiscutível que a presença dos humanos no planeta tem tido consequências devastadoras a nível da biodiversidade.
Os humanos precisam de ter um olhar abrangente sobre quem são. Até podem ter o poder de modificar paisagens e de viajar até outros planetas. Mas o planeta Terra não pertence aos humanos e nem as paisagens naturais da Terra são cenários que servem apenas como decoração. Os humanos são apenas uma espécie que faz parte da biodiversidade cada vez mais empobrecida do mundo que habitamos.
Os insectos têm uma enorme importância para a vida na Terra. A Natureza precisa dos insectos.