Dilemas ambientais da sociedade humana

Seguir estilos de vida que não sejam prejudiciais para o meio ambiente nem para a biodiversidade é uma informação que está, mais ou menos, omnipresente na nossa sociedade. Volta e meia ouvimos acerca do aquecimento global e que, para o combater, temos de reduzir o consumo de combustíveis fósseis. Ouvimos acerca da poluição plástica e da necessidade de reduzir o consumo de plásticos. Ouvimos das espécies que estão em risco de extinção e da necessidade de termos de fazer alguma coisa para evitar que desapareçam.

Enfim, ouvimos acerca de diversos problemas relacionados com o ambiente e com a preservação da biodiversidade que culminam com o “temos de fazer isto para o evitar”. E sim, é verdade, temos de fazer alguma coisa. Aliás, temos de fazer várias coisas para resolver vários problemas que já deviam estar resolvidos há muito tempo ou, pelo menos, em vias de estarem resolvidos. Mas quando queremos fazer a coisa que é necessária fazer para os evitarmos, deparamo-nos com situações que em nada ajudam à resolução dos problemas que devemos resolver.

Debrucemo-nos, então, sobre a forma como o “temos de fazer isto para o evitar” se enquadra nesta nossa sociedade humana. E até proponho irmos além daqueles problemas ambientais que estamos sempre a ouvir, fazendo parecer que só existem esses dois ou três (o aquecimento global, a poluição plástica e, vagamente, a preservação da biodiversidade). Mas há outros problemas e há uns que são a causa de outros.

Debrucemo-nos, então, agora sim, sobre a forma como a nossa sociedade lida com a resolução dos problemas ambientais e com a preservação da biodiversidade.

A complicação de habitar uma sociedade humana que não seja prejudicial para o ambiente nem para a biodiversidade

Bem sei que habitar uma determinada região poderá implicar fazer alterações a essa mesma região de modo a torná-la aprazível para o nosso modo de vida e para as nossas necessidades. A espécie humana não é a única a fazer alterações no seu habitat. Os castores também o fazem, as térmitas e muitas outras espécies. No entanto, o modo como os seres humanos têm vindo a interagir com o mundo em que habitam e a forma invasiva e destrutiva com que a nossa espécie se apresenta torna-nos uma ameaça assustadora para a preservação da biodiversidade e para o estado geral do meio ambiente. Claro que há excepções porque nem todos os seres humanos entram nesta viagem destrutiva. Mesmo aqui neste nosso mundo “economicamente desenvolvido” (como alguns poderão dizer) encontramos indivíduos e grupos de indivíduos cujas vidas possuem pouco ou nenhum impacto negativo no ambiente e na biodiversidade. E muitos outros fazem o que lhe for possível para reduzir esse impacto.

Apesar do cenário arrasado que estamos a provocar no planeta, estou em crer que se fizermos um inquérito à população humana, perguntando se deseja habitar uma sociedade humana que não seja prejudicial nem para o meio ambiente nem para a biodiversidade, uma parte considerável dos inquiridos irá responder com um “sim”. Porém, quando colocamos este “sim” na prática, reparamos que as coisas não são assim tão simples. Há uma distância enorme entre o desejo de habitar uma sociedade humana cujo impacto negativo no meio ambiente e na biodiversidade seja mínimo (e, idealmente, zero) e aquilo que estamos a fazer na prática.

Numa sociedade como a que habitamos actualmente pode ser complicado seguir um estilo de vida com o mínimo de impacto negativo. Olhamos à nossa volta e parece difícil encontrarmos soluções viáveis que nos facilitem conseguir a sociedade humana que desejamos.

Observemos uns exemplos do nosso dia-a-dia.

Exemplo 1: Automóveis a gasolina ou eléctricos?

Tudo parece apontar para que os veículos eléctricos vão, aos poucos, substituindo os de motor de combustão interna. Os segundos, além de estarem dependentes de combustíveis fósseis (no caso, o petróleo para produzir a gasolina ou o gasóleo que necessitam), emitem para a atmosfera terrestre gases com efeito de estufa quando circulam nas estradas. Estes gases são os responsáveis pelo efeito de estufa que existe naturalmente na Terra. Mas quanto maior for a concentração desses gases na atmosfera, mais intenso é o efeito de estufa, o que tem como consequência o aumento da temperatura média global do planeta (o tal aquecimento global). Grosso modo, é assim que o fenómeno acontece.

Portanto, se retirarmos das estradas os veículos dependentes de combustíveis fósseis, substituindo-os por eléctricos, estamos a aliviar o problema do aquecimento global porque estes não emitem gases com efeito de estufa quando circulam nas estradas. Porém, as coisas não são assim tão simples porque, apesar dessa vantagem que possuem em relação aos de combustão interna, os veículos eléctricos emitem esse tipo de gases durante a sua fase de produção nas fábricas, bem como durante a extracção de determinadas matérias-primas que são utilizadas para os seus componentes. E mesmo quando estão nas mãos dos seus proprietários, se a electricidade que carrega as suas baterias for produzida a partir de combustíveis fósseis, dá-se a emissão de gases com efeito de estufa para a atmosfera. E, além deste aspecto dos gases com efeito de estufa, há um outro problema.

O fabrico das baterias recarregáveis que equipam os veículos eléctricos precisa de matérias-primas como o lítio, o cobalto e o níquel, cuja extracção provoca efeitos devastadores, poluindo o ambiente com substâncias tóxicas e destruindo ecossistemas. E como parece estarmos num rumo que implica uma cada vez maior produção de veículos eléctricos, maior será também a necessidade de fabricarmos as suas baterias, implicando a extracção de maiores quantidades de matérias-primas. Ou seja, se por um lado, estamos a tentar combater o aquecimento global retirando os veículos a gasolina ou a gasóleo das estradas, por outro estamos a abrir as portas para aumentar a destruição de ecossistemas. E temos, ainda, o problema da reciclagem (e/ou da reutilização) das baterias após o seu descarte. Talvez um dia seja possível fabricarmos as baterias sem necessidade de poluir o ambiente e de destruir ecossistemas.

Este Exemplo 1 coloca-nos num dilema: se optarmos por comprar um veículo que precisa de gasolina ou de gasóleo, estamos a contribuir para o aquecimento global e a destruir ecossistemas (não esquecer a extracção e os derrames de petróleo). E se optarmos por comprar um veículo eléctrico, estamos a contribuir para a destruição de ecossistemas e também a contribuir para o aquecimento global. Portanto, talvez o melhor a fazer seja reduzir a utilização do automóvel e deverá também trazer benefícios ambientais uma maior implementação do regime de teletrabalho.

Exemplo 2: Qual a origem da electricidade que consumimos?

Estamos tão habituados a viver com a energia eléctrica que nem damos pela sua presença. Excepto quando falta a luz. A nossa sociedade está totalmente dependente da electricidade. Usamo-la para tudo: para iluminar a nossa casa, para iluminar as ruas à noite, para ligar os electrodomésticos, para iluminar os escritórios e as lojas, para fazer funcionar a maquinaria das fábricas, para iluminar as peças de teatro e respectivos actores, para carregar as baterias dos computadores, smartphones e automóveis, e para muitas outras coisas. Será, certamente, uma lista exaustiva o apontar tudo o que o nosso mundo contém que precisa de electricidade.

A electricidade até é uma ferramenta útil porque permite-nos fazer coisas que, sem ela, não seriam possíveis. Podemos criar coisas a partir dela como, por exemplo, a guitarra eléctrica e também podemos jogar futebol à noite, sem precisarmos de estar dependentes da luz solar para o fazer. E permite-nos fazer ou facilitar o fazer de um monte de coisas diversas mundo fora.

Para termos a electricidade que precisamos, é necessário produzi-la e, para tal, vamos encontrar, mais uma vez, os combustíveis fósseis (como o carvão ou o gás natural). E já se sabe da história da emissão de gases com efeito de estufa e do aquecimento global. No entanto, têm vindo a ser implementadas outras fontes mais limpas, como a energia solar e a eólica. Mas mesmo estas fontes mais limpas possuem um certo impacto negativo no meio ambiente e em diversas espécies (como as aves, no caso das turbinas eólicas). E torna-se também necessário lidar com o material que se tornou obsoleto que, em muitos casos, não é reaproveitado.

Temos, portanto, no Exemplo 2 um outro dilema, pois quer a electricidade seja produzida a partir de combustíveis fósseis, quer seja produzida a partir de fontes renováveis e/ou mais limpas, sempre que acendemos a luz da sala ou carregamos a bateria do smartphone ou do automóvel, podemos estar, de alguma maneira, a causar um impacto negativo no meio ambiente e em diversas espécies que habitam a Terra. Esperemos que um dia seja possível produzir electricidade sem causar tal impacto.

Exemplo 3: Há plásticos descartáveis em todo o lado

O tal problema dos plásticos descartáveis. Podemos estar cheios de vontade de contribuir para a redução do consumo desses plásticos mas, quando entramos nos retalhistas, encontramos milhares de produtos embalados em plástico descartável, muitos dos quais irão servir para aumentar a já enorme poluição plástica que existe no mundo. E nunca é demais dizer que essa forma de poluição possui consequências catastróficas para milhões de indivíduos de diversas espécies, causando-lhes problemas de saúde, lesões graves e, muitas vezes, a morte.

Claro que uma percentagem desses plásticos descartáveis será reciclada mas sabemos que a reciclagem não é o melhor dos métodos quando se trata da saúde do ambiente em que vivemos. Isto, sem esquecer que a maioria dos plásticos em circulação é produzido a partir de combustíveis fósseis e é necessário fazer a sua extracção para que, posteriormente, seja possível fabricar os plásticos descartáveis. Plásticos esses que atravessam um processo de fabrico tóxico.

E quanto ao dilema do Exemplo 3. O que fazer numa situação em que o produto que queremos comprar está embalado em plástico descartável? Será que devemos sair dos retalhistas sem comprar o que lá íamos comprar porque esse produto está embalado em plástico descartável? Será que devemos deixar de comprar produtos que estão embalados em plástico descartável? Será que devemos procurar retalhistas que seguem processos de venda menos prejudiciais para o ambiente e para a biodiversidade (mas que também poderão vender embalado em plástico descartável o produto que queremos)?

Pode ser extremamente complicado eliminarmos por completo o consumo de produtos que estão embalados em plástico descartável mas temos o dever de reduzir o mais possível a compra desses produtos.

E claro, quanto aos consumidores, enquanto uns estão preocupados em reduzir os plásticos descartáveis, outros há que dão pouca ou nenhuma importância a esse assunto e contribuem activamente para aumentarem a poluição plástica no mundo e respectivas consequências catastróficas para diversas espécies.

Exemplo 4: Qual a origem dos nossos alimentos?

Como é óbvio, nós temos de comer alguma coisa. O problema é que muita da actividade agrícola que produz comida para a nossa mesa faz uso de fertilizantes tóxicos para o meio ambiente e para a biodiversidade, sendo esses uma das causas para o enorme declínio populacional dos insectos que estamos a atravessar. A pesca excessiva que prolifera mundo fora tem também consequências desastrosas. E a produção de carne deixa muito a desejar.

Muitos dos alimentos produzidos através dos métodos que expus no parágrafo anterior são encontrados à venda nos retalhistas. Mas nós temos de comer alguma coisa e temos de tentar comprar alimentos que sigam métodos de produção que não foram prejudiciais. Às vezes podemos encontrá-los nos supermercados próximos de casa mas também os encontramos nas lojas mais preocupadas com o ambiente e com a preservação da biodiversidade, que até poderão ser pequenas mercearias.

Dilema do Exemplo 4: Que mapa iríamos criar se nos fosse pedido para desenhar um trajecto que mostre o percurso dos alimentos que comemos e respectivos métodos usados para a sua produção?

Exemplo 5: A desflorestação que causamos

Tal como acontece com outros problemas ambientais como, por exemplo, a poluição plástica ou o aquecimento global, a desflorestação origina uma série de outros problemas. Ou seja, tirar umas árvores não significa apenas que essas árvores deixaram de existir. Tirar umas árvores é, em vez disso, a causa de vários outros problemas que passam a existir.

A desflorestação é a eliminação intencional e massiva de área florestal com o objectivo de, no seu lugar, serem criados terrenos agrícolas, pastagens, minas, zonas residenciais ou qualquer outra coisa. É um fenómeno que acontece em todos os continentes e com ênfase especial na Amazónia, em África e no Sudeste Asiático. E não é sequer um fenómeno recente. É algo que a nossa espécie tem vindo a fazer ao longo dos tempos.

As causas actuais da desflorestação são várias: a produção de óleo de palma, a produção de soja, a necessidade de criar pastagens para albergar gado bovino, a indústria madeireira, a indústria mineira, a expansão urbana, a construção de vias de comunicação e os incêndios florestais.

Destas causas, olhemos para o caso do óleo de palma. Para o obter, arrasamos uma área de floresta para, no seu lugar, plantarmos a palmeira-dendê (um dos nomes comuns da Elaeis guineensis). É dela que obtemos o óleo de palma e encontramo-lo numa enorme lista de produtos: chocolate, margarina, sabonetes, pasta de dentes, gelado, bolachas, detergentes, cosméticos, shampoo e até na produção de biocombustíveis, entre muitos outros.

É um material extremamente versátil e, por isso, é utilizado para diversos fins como, por exemplo, aumentar o prazo de validade de alguns produtos e dar uma textura macia e cremosa a outros. Porém, é difícil evitá-lo porque, além de fazer parte da composição de imensos produtos, é possível que nem apareça na lista de ingredientes porque o óleo de palma é também um dos componentes utilizados para o fabrico dos ingredientes que, esses sim, constam da lista que surge no rótulo. Portanto, é extremamente difícil evitarmos óleo de palma porque podemos estar a usar produtos que nem sabemos que o contém. No entanto, é nosso dever evitá-lo ao máximo. Mas o problema é que as alternativas ao óleo de palma não parecem ser melhores e podem causar uma desflorestação ainda maior.

A desflorestação implica a fragmentação de habitats e a destruição de ecossistemas. E, obviamente, muitas espécies estão a ser empurradas para a extinção. Segundo a World Animal Foundation, uma média de 137 espécies de animais e plantas extinguem-se todos os dias devido à desflorestação e à destruição dos seus habitats. E, por ano, são cinquenta mil espécies que desaparecem.

Dilema do Exemplo 5: É um cenário catastrófico porque muito do que fazemos, produzimos ou consumimos parece contribuir para a desflorestação.

Exemplo 6: O consumismo a que nos habituámos

Podemos definir o consumismo como um sistema que se baseia na manutenção infindável da compra de produtos, algumas vezes úteis, outras vezes supérfluos mas que vão preencher uma necessidade ou trazer bem-estar ou felicidade a quem compra. Na prática, o consumismo é um motor para o crescimento económico. E se antes trocávamos feijões por trigo, agora trocamos dinheiro por trigo.

O consumismo cria riqueza, cria oportunidades de negócio, cria empregos e até é útil para criar diferentes formas de pensar um mesmo produto. E havendo mais riqueza disponível podemos, potencialmente, melhorar as nossas condições de vida (com melhores bibliotecas, melhores serviços de saúde, melhor educação, mais financiamento para a ciência, mais investimento nas artes, melhores condições para o desporto, melhores casas, melhores meios de transporte e por aí adiante).

É claro que podemos debater sobre o que suporta a criação de necessidades nos consumidores e o obter bem-estar ou felicidade através da compra de um produto ou serviço. Mas não é esse o tema deste texto.

Nós consumimos de tudo, desde morangos até automóveis, passando por cosméticos, água engarrafada, gasolina, plásticos, papel, brinquedos, equipamentos de ar condicionado, férias e variadíssimos outros produtos. E é neste ponto que começa o problema do consumismo que actualmente vivemos.

Para o sistema consumista, quanto mais consumidores houver, melhor porque significa mais clientes potenciais e mais oportunidades de venda e, consequentemente, mais hipóteses para criar riqueza. E sabendo nós que muito daquilo que se produz na nossa sociedade assenta em práticas prejudiciais para o ambiente e para a biodiversidade, torna-se um problema gigante o aumento da quantidade de consumidores porque quanto mais consumidores houver, maior é a necessidade de produzir e de extrair os materiais necessários e mais devastadoras são as consequências negativas para o meio ambiente e para a biodiversidade.

Dilema 6: O processo de compra e venda data de há milhares de anos na História humana. Mas antes havia menos consumidores e, actualmente, há mais. E além de haver mais, possuímos produtos que não existiam no passado. Devemos, portanto, ter mais cuidados e comprar menos de tudo para que possamos minimizar o impacto no ambiente e na biodiversidade que actualmente causamos. Mas comprar menos de tudo pode significar o empobrecimento do nosso bem-estar ou da nossa produtividade.

Exemplo 7: O problema da sobrepopulação humana

A sobrepopulação humana é um fenómeno muitas vezes esquecido, ignorado ou menosprezado quando se abordam os problemas relacionados com o meio ambiente e com a preservação da biodiversidade. Porém, tem um peso enorme no que respeita ao estado actual de ambos.

Actualmente, há mais de oito mil milhões de seres humanos a habitar a Terra. E cada um precisa do essencial para a sua vida, que vai desde casa, alimentos, água e roupa até automóveis e smartphones, passando por uma lista infindável de produtos, dependendo, claro, da região do mundo onde se habita. E tudo isto precisa de ser produzido e transportado. Sem esquecer os desperdícios, os resíduos tóxicos e toda uma série de factores agregados à produção massiva, distribuição e descarte.

Parece-me óbvio que alimentar e produzir para um ou dois mil milhões de seres humanos é um cenário completamente diferente daquele que existe quando precisamos de alimentar e produzir para oito mil milhões e, ainda mais, para dez mil milhões de seres humanos.

Uma maior população humana implica mais bocas para alimentar e, por isso, é necessário produzir maiores quantidades de alimentos, cujos processos recorrem, frequentemente, a métodos pouco ou nada benéficos para a saúde da biodiversidade. E neste aspecto em particular, é irrelevante se fazemos da carne a base da nossa alimentação, se somos flexitarianos, se somos vegetarianos, vegans ou de qualquer outra categoria. Mais humanos implica mais comida produzida (seja essa carne de vaca, seja peixe, soja, fruta, milho ou qualquer outra coisa). E quanto maior for a quantidade produzida, maior é o estrago que fazemos no ambiente e na biodiversidade, devido não apenas à intensidade com que a produzimos mas também aos métodos a que recorremos.

Uma maior população humana necessita de mais casas, mais fábricas e mais zonas comerciais e empresariais e, para as obtermos, conquistamos espaço à Natureza. Para expandirmos a área urbanizada, eliminamos florestas, drenamos pântanos e destruímos prados e, quando o fazemos, estamos a destruir ecossistemas e a dificultar ou a eliminar as vidas das espécies que viviam nesses ecossistemas. Quanto maior for a área construída, menor é o espaço que sobra para os ecossistemas naturais e para a biodiversidade.

Uma maior população humana implica uma maior quantidade de matérias-primas extraídas como, por exemplo, o lítio, a bauxite, o ouro, a madeira, entre outras, o que, em geral, se consegue à custa da degradação ou da destruição de ecossistemas.

Uma maior população humana implica uma maior emissão de gases com efeito de estufa porque há mais automóveis nas estradas, há uma maior necessidade de produzir electricidade, há uma maior necessidade de produzir plásticos, há um maior uso de equipamentos de ar condicionado, há mais aviões a voar, e assim por diante. Por outras palavras, implica a existência de mais fontes emissoras de gases com efeito de estufa.

Uma maior população humana, implica uma maior quantidade de plásticos descartáveis que precisam de ser produzidos, muitos dos quais serão lançados para o ambiente, aumentando ainda mais a poluição plástica e respectivas consequências.

Existem diversas outras consequências criadas pela sobrepopulação humana mas as expostas serão suficientes para perceber o impacto que este factor tem no ambiente e na biodiversidade. Num outro texto, abordei com mais profundidade esse impacto.

A população humana vai continuar a aumentar até ao final do século XXI. As projecções das Nações Unidas indicam que, nessa altura, e num cenário de fertilidade média, habitarão a Terra cerca de dez mil e quatrocentos milhões de indivíduos.

Dilema 7: Diminuir a população humana global é um processo que demora décadas porque é necessário lidar com a passagem de gerações. E à medida que as gerações vão passando, cada um de nós deve decidir que papel quer ter no processo. Um casal com três ou mais filhos (ou com dois ou mais, no caso de uma família monoparental) está a contribuir para o aumento da população.

Conclusão

A História não é uma coisa estática. É, em vez disso, um processo dinâmico. Há causas que originam consequências que, por sua vez, formam novas causas que desaguam em novas consequências e por aí adiante. A História é um fluir de acontecimentos, de decisões e de escolhas por parte de todos nós. É uma série de caminhos que vão sendo construídos ao longo do tempo. E até podemos dizer que estamos sempre em transição para algum lugar. A História é um “vem de” e “vai para”. E nós “vimos de” e “vamos para”. Apenas precisamos de decidir para onde queremos ir.

Os problemas ambientais começaram a popularizar-se há poucas décadas (há uma ou duas gerações). E apesar desses problemas não estarem a ser resolvidos como seria suposto, aos quais se acrescentaram outros que surgiram entretanto, parece notar-se uma maior preocupação com o meio ambiente e com a preservação da biodiversidade (ainda que, muitas vezes, essa preocupação fique apenas no papel ou no mundo das ideias ou esteja coberta por greenwashing; mas isso são outros assuntos). Apesar disso, é visível a existência de indivíduos ou grupos de indivíduos da espécie humana que, através das escolhas que fazem no seu dia-a-dia, tentam reduzir o seu impacto negativo no meio ambiente e na biodiversidade.

Nós estamos agora nas primeiras gerações de indivíduos que trouxeram essas escolhas para a sua vida. E é óbvio que não é fácil conseguir viver um estilo de vida que, de alguma maneira, não tenha, pelo menos, algum impacto negativo no ambiente e na biodiversidade. Há ainda demasiados dilemas. A nossa sociedade humana ainda não está preparada para viver a sua História sem prejudicar o ambiente e a biodiversidade. Por isso, ainda vamos continuar a esticar a corda durante mais algumas gerações.

Eu gostaria de poder de acreditar que atravessamos, actualmente, uma fase de transição em que, gradualmente, nos vamos livrando de modos de vida prejudiciais para o ambiente e para a biodiversidade para que, daqui a uns séculos, possamos viver numa sociedade humana mais equilibrada. Mas, enquanto vivemos esta fase de transição, ainda vamos continuar a degradar e a destruir ecossistemas e a empurrar espécies para a extinção.

Mas é sempre possível que essa fase de transição não exista e que o nosso planeta caminhe, cada vez mais, para um cenário desolado em termos de biodiversidade. Um planeta em que as diversas espécies (que não a humana) sejam obrigadas a viver em reservas ou em locais similares para que, possivelmente, se possam salvar da humanidade. O rumo que queremos que a História tome está nas mãos de cada um de nós.

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