“Acerca de alguns activistas ambientais” talvez seja uma boa maneira de começar este artigo. Não que haja uma maneira ideal para o fazer mas, simplesmente, porque apetece-me começá-lo dessa forma, dizendo que talvez seja uma boa maneira. Prossigamos, então, deambulando um pouco sobre certos movimentos ambientalistas criados e desenvolvidos por alguns indivíduos da espécie humana que habitam num planeta ao qual damos o nome de Terra.
O que entendo por “alguns activistas ambientais”
Determinados cidadãos recorrem a formas de perturbação da ordem para fazer valer as suas ideias ambientalistas. É gente que atira tinta contra alguém ou que interrompe o trânsito automóvel ou que vandaliza peças de arte ou que sabota, destrói ou parte qualquer outra coisa. Creio que o que avancei é suficiente para se perceber de que grupos falo. E grupos e não grupo porque há vários mundo fora que actuam de forma similar.
Chamei “alguns activistas ambientais” aos praticantes dessas formas de expressão, há quem os denomine por “activistas ambientais”, há quem diga que são “ecoterroristas” e até há quem os chame de várias outras coisas.
Optei por juntar a palavra “alguns” a “activistas ambientais” porque nós podemos ser activistas de alguma coisa sem ter necessidade de recorrer a tais actos desassossegados que, na minha opinião, não trazem nenhum efeito favorável à sua causa.
As preocupações ambientais
Dificilmente, aqui nesta nossa sociedade dita ocidental (e noutras), deverá haver algum humano que não tenha ouvido falar do aquecimento global e das alterações climáticas (fenómenos diferentes mas que, por vezes, surgem misturados como se se tratassem de uma mesma coisa). Talvez passem despercebidos a um ou outro indivíduo que, por alguma razão, esteja um pouco mais desfazado da realidade mas estou convencido que uma parte considerável da população já se cruzou com tais expressões em algum momento das suas vidas. Nem que seja porque esses temas ambientais são aqueles que surgirão mais frequentemente nas notícias jornalísticas, apesar de haver uma carrada de outros problemas que só mais raramente têm direito de antena nos meios de comunicação social mais populares. Falo de problemas como a poluição plástica, a desflorestação, as espécies que estamos a empurrar para a extinção, o declínio populacional dos insectos que estamos a atravessar, entre vários outros.
Acompanhando essas notícias, vamos ouvindo sobre os acordos que vão sendo assinados sobre os objectivos de redução da emissão de gases com efeito de estufa (que, muitas vezes, não são respeitados), vamos ouvindo sobre os acordos (ou leis) que existem sobre a preservação da floresta (e que, muitas vezes, são violados, em particular em certas regiões tropicais do mundo), vamos ouvindo sobre a necessidade de reduzirmos o consumo de plásticos descartáveis (que, em grande medida, fica apenas por palavras)… Enfim, ouvimos sobre o que é necessário fazer e, grosso modo, fazemos o contrário daquilo que é necessário fazer. Bem sei que há uma série de forças pressionantes que actuam sobre esse fazer-contrário. Forças que vão desde formas ilegais de exploração dos recursos naturais, até às necessidades de consumo para abastecer a sobrepopulação humana, passando por outros aspectos existentes.
Independentemente das suas causas, a verdade é que estamos razoavelmente cientes que estamos rodeados por problemas ambientais. São assuntos que começaram a popularizar-se durante a segunda metade do século XX e, actualmente, quando estamos já bem entrados no século XXI, há gerações inteiras que nasceram e cresceram tendo-os como pano de fundo.
O surgimento de gente interessada e empenhada na defesa de temas ambientais não é recente e, se recuarmos na História, vamos encontrando diversos exemplos de casos desses. E, da mesma maneira, os grupos e as associações que actuam em prol de um meio ambiente mais saudável e da preservação da biodiversidade é algo que existe desde tempos imemoriais. Bom, talvez não tanto mas passaram-se já várias gerações desde o primeiro. E estou certo que a maioria desses grupos e associações é constituído por gente pacífica e actuam de forma ordeira e construtiva.
Porém, há uns quantos grupos que optam por formas de expressão diferenciadas e preferem causar perturbações de ordem vária. E é nesses que encontramos o tipo de acções que fiz saber no início deste artigo que são, recapitulando, atirar tinta contra alguém, interromper o trânsito automóvel, vandalizar peças de arte e sabotar, destruir ou partir qualquer outra coisa.
Fará sentido tais acções?
A minha resposta é um grandessíssimo “não”. E no que respeita ao aquecimento global, a pergunta que imediatamente surge é: que relação tem o aquecimento global com a pintura de um qualquer artista contra a qual foi lançada tinta por esses alguns activistas? Será que é por causa da tinta de óleo usada pelo artista? Será que esse artista conduzia um automóvel a gasolina? Será que o tamanho da tela não era ambientalmente adequado?
Podemos, obviamente, falar um pouco sobre a composição das tintas de óleo, sobre o plástico das tampas dos tubos de tinta ou sobre os diluentes. Mas que relação terá aquele artista em particular ou aquela pintura com o aquecimento global? Será que os artistas são os principais emissores de gases com efeito de estufa, motivo pelo qual aquele pobre coitado, cuja pintura estava exposta num museu (para ser apreciada por todos) serviu de bode expiatório?
Então e a tinta que os alguns activistas ambientais atiraram para cima de alguém ou para uma pintura? Não terá ela componentes criados a partir de petróleo ou de outros combustíveis fósseis? E não serão os combustíveis fósseis um dos responsáveis pela emissão de gases com efeito de estufa, contribuindo para o aquecimento global? E como terá sido o processo de fabrico da tinta atirada? Que meios de transporte terão sido utilizados na sua produção e transporte? Como foi produzida a electricidade que alimentou a fábrica de tintas? E que meios de transporte terão utilizado os alguns activistas ambientais para irem comprar a tinta e para a levarem para o local de despejo?
Como facilmente se percebe, só podemos comprar uma coisa se essa coisa for produzida, atravessando todo um processo de fabrico, desde a obtenção dos componentes para a sua receita, até ao fabrico da embalagem ou da lata que contém o produto. E assim também acontece com a tinta que encontramos à venda nas lojas e que utilizamos para pintar paredes (ou qualquer outra superfície). Portanto, ao comprar a tinta (que precisou de ser produzida), não estarão os alguns activistas ambientais a contribuir para a emissão de gases com efeito de estufa e, por arrasto, a ser também responsáveis pelo aquecimento global? Isto além de estarem a contribuir para a manutenção do consumo de combustíveis fósseis porque, certamente, terão sido utilizados em alguma fase do processo de produção da tinta e sua distribuição pelos pontos de venda.
Já agora, a título de curiosidade, listo alguns dos milhares de produtos que contêm petróleo na sua composição: gasolina, gasóleo, combustível dos aviões, plásticos, cosméticos, nylon, borracha sintética, solventes e muitos, muitos outros.
E podemos continuar, dividindo os plásticos em diversos produtos que usamos no nosso dia-a-dia: embalagens de shampoo, esferográficas, smartphones, televisões, escovas de dentes, cadeiras, molas para pôr a roupa a secar, embalagens de iogurte, etc, etc, etc e ainda mais etc e por aí adiante. E acrescentemos ainda o polyester (também ele produzido a partir do petróleo) que encontramos nas roupas que usamos, nas toalhas, nas cortinas e em muitos outros produtos.
Será que os alguns activistas ambientais conseguem fazer toda a sua vida sem recorrerem a nenhum dos produtos que acima listei? E será que eles não têm smartphone? É que o lítio necessário para o fabrico das suas baterias (e também das baterias dos veículos eléctricos, dos computadores portáteis e de outros produtos) atravessa um processo de extracção muito prejudicial para o meio ambiente e para a biodiversidade.
É claro que, tal como acontece com cada um de nós, os alguns activistas ambientais (aqueles que, nas suas casas, tomam as decisões de compra) até podem, para o seu dia-a-dia, optar por comprar produtos mais agradáveis para o ambiente e para a biodiversidade para reduzir o impacto negativo que as suas vidas têm sobre esses aspectos. No entanto, se fazem esse tipo de escolhas, talvez devessem pensar um pouco melhor na forma de chamar a atenção do público para a sua causa porque, além de estarem a contribuir para aumentar o problema que combatem, aquilo que me parece que estão a obter é um efeito contrário do resultado que almejam. Dificilmente alguém que não pertença ao grupo dos alguns activistas ficará contente por saber, por presenciar ou por ser apanhado em tamanhos actos de destruição, de vandalismo e de rebeldia. E, eventualmente, chegará o momento em que o público em geral começa a sentir repulsa em relação a esses grupos.
Falando de contentamento e mantendo-me ainda no tema do aquecimento global olhemos, agora, para outra situação. Uma das acções criadas pelos alguns activistas ambientais é a interrupção do trânsito automóvel através, por exemplo, do corte de uma estrada devido a alguma solução criativa (à falta de melhor palavra) que terá, penso eu, o objectivo de interromper o fluxo de gasolina e gasóleo que nela circula. Ou, dito de outra maneira, o fluxo de petróleo que nela circula. Ou ainda de outra maneira, o fluxo de emissões de gases com efeito de estufa que se faz sentir a partir dos veículos que circulam nessa estrada. Ora, se aquele trânsito passa nessa estrada é porque há uma razão para isso e até existem momentos a que damos o nome de hora de ponta. Esses são dois, um de manhã (que corresponde à ida dos humanos para os seus empregos) e o outro, algures durante o final da tarde (que corresponde ao regresso desses mesmos humanos às suas casas). Aos automóveis que circulam, acrescentam-se os autocarros, os camiões e os veículos comerciais.
Escrevi já um artigo onde abordo os benefícios do teletrabalho e, pessoalmente, sou favorável à sua implementação em larga escala. Porém, a possibilidade de estar em regime de teletrabalho pode (ainda) não ser uma possibilidade para a grande maioria de nós. E, como tal, muitos precisam de se deslocar diariamente para o local onde exercem a sua profissão, fazendo uso de gasolina ou de gasóleo e emitindo gases com efeito de estufa ao longo do caminho. Temos a hipótese dos veículos eléctricos mas, além dos problemas ambientais relacionados com a extracção do lítio e também do cobalto e do níquel, necessários para o fabrico das suas baterias, temos de ter em conta a forma de produzir a electricidade que os alimenta. Se a minha leitora ou o meu leitor quiser, pode dar uma vista de olhos num outro artigo que escrevi sobre os veículos eléctricos, clicando aqui.
Posto isto, que direito têm os alguns activistas ambientais de impedir a circulação automóvel àqueles que precisam de se deslocar para o seu emprego? Vão os alguns activistas ambientais pagar o salário do dia a cada funcionário que se viu obrigado a faltar ou a chegar atrasado? Vão eles fazer o trabalho que fica por fazer e que era da responsabilidade desse funcionário? Vão pagar o prejuízo que uma determinada empresa está a ter por não ter presente o funcionário? Vão fazer a entrega de uma mercadoria porque o camião que a transportava não pôde prosseguir o seu trajecto?
Como se saberá, o uso que fazemos dos combustíveis fósseis não é recente, usamo-los há vários milhares de anos, mas foi com o advento da Revolução Industrial que o seu consumo se intensificou. E como também se saberá, a combustão desse tipo de combustíveis emite para atmosfera gases com efeito de estufa, os responsáveis pelo aquecimento global. A industrialização do mundo e o enorme aumento da população humana que aconteceu a partir desses tempos são factores cruciais para o aumento da emissão de gases com efeito de estufa para a atmosfera terrestre. Uma maior população humana implica uma maior quantidade de fontes emissoras de gases com efeito de estufa porque há mais veículos nas estradas, há uma maior necessidade de extrairmos matérias-primas (onde se podem incluir os combustíveis fósseis), há uma maior necessidade de produzirmos electricidade, há uma maior necessidade de produzirmos gasolina, plásticos, alimentos e por aí adiante. Há uma maior necessidade de produzir e transportar muita coisa para que se torne possível aliviar as necessidades de consumo de tão grande população.
Podemos considerar que vivemos ainda um pouco à sombra do advento da Revolução Industrial, não em relação à parte da indústria (porque essa é quase tão antiga quanto nós próprios) mas sim em relação à dependência que ainda vamos tendo dos combustíveis fósseis. Mas é verdade que, gradualmente, temos vindo a substituí-los por fontes mais limpas (podemos chamá-las assim) e a produção de electricidade é um exemplo típico desse aspecto.
Mas é também verdade que, actualmente, nesta segunda década do século XXI, os combustíveis fósseis continuam a mover o mundo, seja através da organização geo-política, das necessidades de mercado, dos plásticos necessários para as nossas vidas, da produção de electricidade e através de muito daquilo que faz parte da nossa sociedade (apesar de parecer que o lítio está a posicionar-se para tomar o lugar conquistado pelo petróleo). Mas continuamos, sem dúvida, a consumir enormes quantidades de combustíveis fósseis.
Uma sociedade, qualquer sociedade, é construída sobre pilares. E quebrar subitamente um deles pode significar o ruir por completo ou quase por completo dessa sociedade. Não podemos negar que os combustíveis fósseis (como o petróleo, o carvão e o gás natural) formam um dos pilares em que temos vindo a assentar as nossas vidas. A substituição de um pilar tão importante como esse por outro mais benéfico para o meio ambiente e para a biodiversidade não se faz em poucos dias mas sim gradualmente e ao longo dos anos. Não é possível passar de um cenário para outro sem uma fase de preparação e de transição. E é nessa fase que são criadas as condições necessárias para irmos de um cenário para outro. Por exemplo, não podemos todos nós, hoje, vender os nossos veículos a gasolina ou a gasóleo para, amanhã, todos nós comprarmos veículos eléctricos. É, pois, necessário substituí-los gradualmente, à medida que forem sendo fabricados e ao ritmo das nossas compras. E também gradualmente, à medida que os veículos com motor de combustão interna forem desaparecendo das estradas, os postos de abastecimento de gasolina e gasóleo irão também sendo desactivados. É, portanto, neste gradualmente que assenta a transição.
Parece-me claro que os veículos com motor de combustão interna têm vindo a ser substituídos por veículos eléctricos e no que respeita à produção de electricidade, a energia eólica, a solar e outras têm vindo a crescer em termos de importância. No entanto, quando avaliamos o impacto negativo de um determinado produto no meio ambiente e na biodiversidade, temos de ter em conta todo o seu ciclo de vida e não apenas a fase em que está nas nossas mãos ou que faz aquilo que se lhe pede. Rapidamente, e mantendo-me nos veículos e nas formas de produzir electricidade:
Apesar dos veículos eléctricos não emitirem gases com efeito de estufa enquanto circulam nas estradas, fazem-no durante a sua fase de produção e na sua fase de descarte. Além disso, para o fabrico das suas baterias, é necessário obter lítio, cobalto e níquel, cuja extracção provoca efeitos devastadores nos ecossistemas e até em outros aspectos. E, já agora, diga-se de passagem que a extracção de lítio tem vindo a aumentar enormemente ao longo dos tempos mais recentes para fazer frente às cada vez maiores necessidades deste material de modo a alimentar a crescente necessidade do fabrico de baterias. E temos ainda de resolver o problema das baterias descartadas após o seu tempo de vida útil.
Encontramos um cenário semelhante se olharmos para as turbinas eólicas. Apesar de não emitirem gases com efeito de estufa durante a fase em que produzem electricidade, fazem-no noutras fases do seu ciclo de vida como, por exemplo, durante o fabrico dos seus componentes, antes das turbinas chegarem à sua vida activa. Além disso, a rotação das hélices pode tornar-se perigosa para as aves, matando muitas delas. E temos ainda um problema com a fase do descarte de material que se tornou obsoleto.
Portanto, quando estamos a ter em conta o meio ambiente e a preservação da biodiversidade, não basta dizer que devemos substituir isto por aquilo ou que este aspecto é prejudicial e, por isso, devemos eliminá-lo. É, pois, necessário ter em conta uma série de factores porque as alternativas que existem podem, de facto, ser melhores em relação a determinados pontos mas poderão deixar muito a desejar em relação a outros pontos.
Conclusão
Abordei o tema dos alguns activistas ambientais a partir do aquecimento global e das alterações climáticas que, por alguma estranha razão, são os problemas sobre os quais mais vezes ouvimos, como se houvesse um esquecimento consciente em relação a outros problemas ambientais. Apesar dessa superior popularidade, nós estamos, de facto, a atravessar um período de aquecimento global e este é provocado pelas actividades humanas, havendo diversos estudos científicos que o comprovam. Não é, porém, a primeira vez que um período de aquecimento global acontece na História da Terra. Temos, por exemplo, um no Jurássico, quando a nossa espécie ainda nem existia.
Como se espera, um fenómeno como o aquecimento global, que pode acontecer por causas naturais, traz consequências para aspectos do nosso planeta levando, por exemplo, espécies à extinção. Nós, Homo sapiens, não seremos extintos devido a esse fenómeno mas há factores em jogo que criam desafios, por assim dizer, à nossa espécie. Por exemplo, a subida do nível do mar inundará milhares de quilómetros de zonas costeiras, incluindo cidades (por inteiro ou parcialmente), um assunto que é necessário ir resolvendo de uma forma que se adeque a cada situação. Claro que existem situações complicadas como certas ilhas que ficarão totalmente submersas e, para essas, terá de se encontrar outro tipo de solução.
Não nos podemos esquecer que habitamos um planeta dinâmico e pleno de factores que vão transformando a paisagem ao longo do tempo como, por exemplo, a erosão hídrica, a erosão eólica, o movimento das placas tectónicas, os vulcões em actividade e o clima, entre muitos outros. Devido a esses factores, os rios vão mudando o seu percurso ao longo do tempo, as regiões que actualmente são desertos nem sempre o foram e as montanhas vão aparecendo e desaparecendo (como os Himalaias, que não existiam há cem milhões de anos). E acrescento dizendo que já encontrámos cidades da Antiguidade que, por causas diversas, foram submersas e cujas ruínas estão, actualmente, debaixo de água.
Acredito que haja quem fique assustado com acontecimentos como o aquecimento global e as alterações climáticas, mas esses fenómenos são apenas fenómenos que, como quaisquer outros, têm as suas causas e as suas consequências. Para esse medo dos fenómenos, não é de menosprezar o alarido alarmante que certos meios de comunicação social (das televisões aos blogs) criam em torno dos temas, quase tornando-os um facto sensacionalista. Apesar desse tom algo sensacionalista são temas importantes que dizem respeito a toda a biodiversidade terrestre, na qual se inclui o Homo sapiens.
Desconheço os motivos que movem cada um dos alguns activistas ambientais cuja causa é o aquecimento global e/ou as alterações climáticas mas, se tivesse de fazer uma lista, diria que uns estão alarmados com a situação, outros quererão ter atenção sobre si próprios, outros têm poucos ou nenhuns conhecimentos sobre o assunto, outros nutrem um sentimento de impotência (ou de rebeldia) em relação à maneira como o mundo é gerido e deverá, claro, haver alguns que sabem sobre a coisa mas que se exprimem de uma forma que, quanto a mim, não é a mais correcta. Podemos ainda juntar aqueles que se vêem envolvidos em tanta informação existente (sobretudo na Internet) e que acham que, para se destacarem dos demais, precisam de criar algo que apareça nas notícias.
Estou razoavelmente certo que uma parte considerável da população humana prefere ter um impacto negativo reduzido (ou até nulo) no ambiente e na biodiversidade. Porém, tal desejo nem sempre é possível devido a diversos factores que vão desde as políticas vigentes até àquilo que os consumidores têm disponível no mercado. É claro que existem diferenças consideráveis entre os estilos de vida existentes em Nova York, em Roma ou em Pequim daqueles que encontramos numa comunidade isolada que viva em harmonia com os ciclos da Natureza. Mas não podemos negar que os estilos de vida presentes nas cidades que indiquei e em muitas outras tendem a alastrar-se globalmente. Além disso, através das exportações e das ajudas humanitárias encontramos em locais longínquos produtos iguais ou semelhantes àqueles que existem nos supermercados que frequentamos.
Obviamente que a situação ideal é a sociedade humana global conseguir viver de forma construtiva com a Natureza e com todas as outras espécies que, connosco, partilham o planeta mas temos de ser realistas e, no momento actual da História, ainda estamos muito longe de habitarmos esse cenário. Temos, pois, um longo caminho pela frente. Um caminho que inclui não apenas pesquisas e investimentos, mas também variáveis de diversos tipos e que vão desde contextos económicos, políticos e sociais até ao desrespeito das leis de preservação da floresta, passando pelo crescimento da quantidade de consumidores e pelo aumento da procura de uma determinada matéria-prima. Nós habitamos uma sociedade complexa na qual existem forças que vão puxando, cada uma, na direcção que lhe for mais conveniente, necessária ou aprazível.
No entanto, apesar da complexidade, enquanto consumidores (que formam uma das forças) temos formas de reduzir o impacto negativo que cada um de nós tem no ambiente e na biodiversidade. E fazêmo-lo evitando plásticos descartáveis, evitando comprar alimentos que foram produzidos através de métodos prejudiciais para o ambiente e para a biodiversidade, reduzindo o consumo de electricidade, reduzindo o consumo de gasolina e de gasóleo, evitando contribuir para aumentar a população humana (reduzindo a quantidade de filhos), entre várias outras soluções que podem (e devem) ser aplicadas no dia-a-dia de cada um.
Claro que também será útil que os produtores e os fabricantes possam fornecer o mercado com soluções com impacto negativo reduzido ou nulo para a biodiversidade e para o meio ambiente. Os produtores e os fabricantes, a par dos consumidores, são fundamentais para conseguirmos rumar em direcção a uma sociedade mais amistosa para o mundo que habitamos. Bem sei que muitos consumidores, através das suas compras, têm já em conta o impacto no ambiente e na biodiversidade, escolhendo aquele produto que for mais benéfico (ou menos prejudicial). Mas muitos outros (por vezes, motivados pela falta de soluções adequadas no mercado), têm de adquirir o que está disponível e que, provavelmente, não respeitou as boas regras ambientais.
Portanto, e para terminar. Não serão os alguns activistas ambientais tão mais eficazes no seu combate ao aquecimento global, às alterações climáticas e a outros problemas se, no seu dia-a-dia, se limitarem a fazer escolhas, adquirindo produtos cujos processos de fabrico tenham um impacto negativo reduzido no meio ambiente e na biodiversidade? Não serão tão mais eficazes se não comprarem nem utilizarem nada que faça uso de combustíveis fósseis? Não serão tão mais eficazes se, através de um website, de vídeos ou das redes sociais, mostrarem ao público essas formas mais positivas e construtivas de combaterem o problema, convidando os consumidores a imitá-los, em vez de recorrerem a métodos que aumentam o problema que querem combater e que podem causar repulsa no público?
Aquilo que os alguns activistas ambientais vandalizaram, destruíram ou partiram terá de ser limpo ou reconstruído e a limpeza ou reconstrução tem custos para o meio ambiente e para a biodiversidade porque é necessário utilizar recursos naturais e/ou comprar determinados produtos que precisaram de atravessar um processo de fabrico, com o impacto ambiental que tal implica.
Estou em crer que o tipo de acções que os alguns activistas ambientais desenvolvem serve apenas para chamar a atenção do público e nada mais do que isso. Mas estou também em crer que o público está já suficientemente alertado e assuntos como o aquecimento global, a poluição plástica, a desflorestação e as espécies em extinção não são, de todo, estranhos para uma parte considerável dos seres humanos. Aquilo que é, portanto, necessário fazer é dizer ao público como se pode resolver esses e outros problemas, mostrando soluções para tal. E atirar tinta, interromper o trânsito e destruir seja o que for não é nenhuma solução.
Apesar do discurso que desenvolvi neste artigo ter caído para o aquecimento global e para as alterações climáticas, saliento que outras causas ambientais e afins atraem os alguns activistas que agem de modo semelhante. E, para esses, a minha opinião é a mesma, com as devidas adaptações aos problemas que pretendem combater.
Nós podemos e devemos ajudar a resolver os problemas relacionados com o meio ambiente e com a preservação da biodiversidade mas é importante conseguirmos manter o bom senso e agirmos de forma equilibrada em relação àquilo que queremos ajudar a resolver. É, pois, necessário que os grupos ambientalistas tragam gente para as suas causas e não que as afastem, como pode acontecer com os alguns activistas ambientais que, além disso, e por arrasto, poderão dar uma imagem negativa dos grupos e associações ambientalistas que agem de forma ordeira e construtiva.