Existem buzinas nos veículos que percorrem as estradas. E sendo as buzinas parte integrante dos veículos, parece-me óbvio que terão de ter alguma utilidade. Por exemplo, podemos utilizá-las para as situações de perigo iminente, de modo a tentar evitar um embate com outro meio de transporte que, sabe-se lá porquê, decidiu passar para a nossa faixa de rodagem no preciso momento em que nos encontrávamos no espaço a ocupar pelo referido veículo e seu condutor.
Podemos, também, utilizá-la como forma de alertar o condutor que ocupa o primeiro lugar na fila de um semáforo vermelho e que decidiu aproveitar os instantes ocupados por essa cor para se distrair um pouco, olhando para o seu smartphone, fazendo-o perder a abertura do verde. Em geral, nessas situações, os condutores que ocupam os lugares atrás dele na fila do semáforo, aguardam uns momentos, vários segundos, e à falta de reacção do veículo primeiro da fila ao acender do verde, um ou dois desses de trás soltam uma breve buzinadela para trazer o da frente de volta à condução.
Enfim, há uma série de situações em que a buzina até pode dar jeito. Mas não é esse o ponto do texto que estendo por aqui abaixo e que já vai no seu terceiro parágrafo.
Ora, tendo eu (e, certamente, outros que pensam como eu) chegado à conclusão que a existência da buzina numa viatura pode, em algumas situações, ser uma ferramenta útil, de que maneira podemos nós encará-la como uma ferramenta inútil?
Olhemos atentamente para o caso que abro no próximo parágrafo.
Imaginemos uma avenida numa cidade. Uma avenida entupida de trânsito automóvel. É uma fila congelada ou quase congelada de carros, autocarros e tudo o mais que por ali se movimente sobre o asfalto. E todos os que estão parados querem avançar, uns porque regressam a casa, outros porque vão para o emprego, outros porque estão no meio da sua actividade profissional e outros por qualquer outra razão. Parece-me, portanto, que ninguém ali quer permanecer parado no trânsito.
Podemos supor que a causa desse trânsito não é tanto a hora de ponta (que se poderá desenrolar nesse instante) mas sim um toque que aconteceu entre duas viaturas. Um toque leve, sem problemas de maior, mas suficiente para impedir o escorrimento normal do tráfego. E diga-se de passagem que apenas os condutores mais próximos desse acontecimento são sabedores do motivo do trânsito, pois os outros lá mais para trás na fila, poderão desconhecer o que o causou por estar o incidente fora do seu campo de visão.
Mas, de algures da fila, começam as buzinas a soar. E quando começa uma, há mais algumas que se lhe juntam, como se o uso da buzina fosse aquilo que vai resolver o problema do trânsito não estar a fluir. E as buzinas tornam-se perturbadoras, extremamente perturbadoras. Não apenas porque o seu uso não vai resolver o problema da falta de fluência do trânsito, como também servem para aumentar ainda mais os níveis de poluição sonora que estão presentes em muitas cidades. E as buzinas irritam e são muito barulhentas.
O fluir do trânsito só se normaliza quando se remove a causa que o bloqueia. E, certamente, o soar da buzina não fará nada em determinadas situações e, por muito que se buzine, os veículos vão continuar pendurados no trânsito.
Outro caso em que a buzina me parece bastante inútil é aquele que muitos de nós terão já presenciado. Imaginemos, então, um semáforo que muda para o vermelho. Como consequência, há uma ou mais viaturas, cada uma com o seu condutor, que param, aguardando pela mudança para o verde. Antes de continuar, permitam-me notar que para o caso ao qual me dedico nesta parte deste meu escrito, necessitam de estar um mínimo de duas viaturas em fila paradas no semáforo, aguardando pelo verde.
Temos, então, duas ou mais viaturas no momento de espera. A um determinado momento, o semáforo apaga a luz vermelha e acende a verde, marcando a autorização para prosseguir o rumo que cada condutor pretende tomar. E este é um fenómeno que, geralmente, se desenrola sem problemas e de forma fluida. O verde acende e, quem por ele aguardava, avança.
Mas, por vezes, apreciamos alguns condutores que do seu lugar na fila, algures dois ou três atrás do veículo que tem a pole position, fazem soar a buzina nos centésimos de segundo que se seguem ao acender da luz verde, como se tivessem a mão preparada sobre a buzina do seu carro. Para que farão esses condutores tal coisa? Terão eles receio que o carro da frente não avance ao soar da badalada da luz verde? Estarão eles a fazer um jogo em que têm de acertar a buzinadela no momento exacto em que o verde acende?
Não irei tentar descobrir a razão de tal fenómeno, pois cada um saberá de si. Mas como as regras da estrada informam que devemos avançar ao acender da luz verde, e não estando nós num circuito de Fórmula 1 (ou qualquer outra fórmula), parece-me que é útil respeitar um certo tempo de reacção ao sinal de partida. E esse tempo de reacção implica que passem uns momentos, não muitos mas o necessário para que quem segue à nossa frente possa arrancar e, consequentemente, abra caminho para a nossa vez de avançar. Mas parece haver certos condutores que não percebem esta lógica simples de avanço ao acender do verde num semáforo.
Concluindo este texto porque me parece que há já demasiadas buzinas a soar e o ruído está a tornar-se insuportável. Posso afirmar com clareza que a buzina pode ser útil para determinadas situações mas é totalmente inútil para muitas outras. No entanto, há quem adore a sua buzina.